quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Os olhos dela pesavam cerca de uma tonelada naquela noite com todo sono que pudera acumular em cima deles, mas não conseguia parar de pensar, se desligar do mundo ao seu redor e dormir. Segundo o rosto dela, tudo o que o corpo mais precisava era ficar quieto, não precisava fazer nada, somente se deixar pesar na cama, mas ela pensava em tudo quanto havia na face da terra não deixando o cérebro desembestado ordenar que parasse tudo por hoje. E no meio de tudo que havia na face da terra um pensamento em específico a incomodava um pouco e ela começou a discorrer sobre esse assunto com a única pessoa que a ouvia incondicionalmente e em todas as horas: o Grande Mestre.

84428594, Peter von Felbert /LOOK

Desse assunto surgiu outro e depois outro e ainda mais outro. Depois de pensar muito a respeito de todas aquelas promessas que Ele havia feito sobre tantas coisas diferentes e que eram muito grandes para a cabecinha limitada dela entender ela simplesmente disse que confiava Nele. Mesmo que não soubesse onde colocar o pé para dar o próximo passo ela continuava confiando Nele. Mesmo não entendendo muitas coisas ela continuava confiando Nele. Mesmo que de vez em quando pudesse surgir alguma nuvem de dúvida querendo fazer sombra no coração dela para não ver o sol, ela continuava confiando Nele, afinal de contas em muitas noites de verão o céu iluminado de pontinhos brilhantes fica encoberto de nuvens, mas as luzinhas continuam lá, em cima das nuvens e ela tinha certeza disso.

Naquela conversa com o Grande Mestre ela entendeu que se ela ainda não sabia onde colocar o pé para dar o próximo passo era porque aquela era hora de ficar parada por mais um tempo, não era hora de colocar o pé em lugar nenhum a não ser onde eles já estavam. Toda essa coisa de ficar parada, porém, trazia ao coração dela muita inquietação. Quem tem foguetes dentro não se aguenta em silêncio. Ela queria ouvir a voz do Grande Mestre, queria ficar perto Dele, sentir a presença Dele, sentir o hálito Dele de tanta proximidade.

Num sorriso discreto o Mestre a olhou e pediu que ela entregasse toda aquela inquietação nas mãozonas Dele porque Ele vinha cuidando dela continuamente e os foguetes dentro dela eram somente para alegria e festa, não tinham a finalidade de inquietar coração nenhum, nem mesmo o dela.

Quase que não acreditando em tamanha tolice de reter uma espécie de foguete que quase lhe queimou as mãos ela sorriu um tanto quanto sem graça, colocou a mão no peito, arrancou do coração toda sorte de foguetes e entregou nas mãos do Grande Mestre.

O Grande Mestre, por sua vez, tomou aquilo e colocou num cálice como se fosse uma oração recolhida e disse a ela que esperasse mais um pouco e não deixasse jamais de perseverar porque a perseverança produzia a paciência. A paciência depois de instalada e acomodada mandava buscar a experiência, que trazia consigo a esperança.

A esperança, aquela senhora velhinha sentada numa cadeira de balanço, trazia ao coraçãozinho outrora inquieto o renovo e a fé que ele precisava para poder abrir mão da preocupação e voltar a sorrir serenamente. Depois de discorrer sobre todas essas pequenas inquietações e de ver o rosto cada vez mais amável e apaixonante do Grande Mestre a olhar pra ela com carinha de pai cuidadoso o cérebro pensante incansável finalmente entendeu que já poderia ordenar ao corpo que se largasse na cama, pois melhor do que fechar os olhos e dormir era repousar nos braços fortes de um Grande Mestre Pai Zeloso.

96958908, By Jekaterina Nikitina /Flickr Select

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