sexta-feira, 22 de abril de 2011

Sementinhas

Já fazia algum tempo que ela vinha andando com um pote enorme de sementes nas mãos. Ela olhava as sementes e cada uma parecia ter uma característica, forma e tamanho diferentes. As sementes que ela carregava eram sementes vivas, que podiam fazer florescer vida onde caíssem.

Sabendo disso, e sabendo como era bom ter aquela sementepalavraviva dentro dela, há muito tempo ela vinha andando e semeando por onde quer que pudesse. Muitas vezes ela não sabia bem onde aquelas sementinhas cairiam, mas ela não se importava com isso. Mesmo que as sementinhas, preciosas que eram, caíssem em solo duro de asfalto ela acreditava que o asfalto podia se rachar bem no lugar que foi largada a sementinha a qualquer momento e assim, brotar alguma vidinha por milagre.

200359797-001, Hayley Harrison /The Image Bank

Às vezes ela segurava aquele pote cheio de grãos de todos os tamanhos, formas, aspectos, cheiros e aparências e ficava admirando cada palavrinha viva em forma de semente e se colocava a pensar como aquelas bolotinhas de palavras, mesmo sendo pouquinho, eram tão preciosas. E como podia uma semente, mesmo sendo apenas uma sementinha, servir tanto para semeadura quanto para alimento dela própria.

E quanto mais ela semeava e apreciava aquelas sementinhas mais elas se multiplicavam. Isso dava a ela mais fôlego para continuar a semear cada dia mais e mais como havia aprendido antes cedo do que tarde com a Amigairmãmaisvelha e com a Amigairmãsensata. E, de certa forma, imitando o jeito como a Amigairmãmaisvelha mesmo havia feito com ela quando plantou sementinhas de liberdade na terra do coração dela quando ela ainda nem sabia andar direito.

De todas as sementes que ela andava jogando por aí, porém, não sabia do destino, do resultado de nenhuma ainda. Nunca chegou a ver nenhum brotinho que pudesse tomar como embrião de planta, ou mesmo como bebê de planta. Mas ela mesma não tinha ainda se atentado para tal fato. O que importava realmente era jogar a semente, pois ela sabia que uns plantavam, outros diferentes dos primeiros regariam e outros ainda colheriam os frutos, mas o crescimento de fato vinha do Grande Mestre criador dos céus e da terra que era o único que podia preparar cada terra.

sb10063647w-001, Brand New Images /Stone+

E foi assim, andando, chorando e semeando que um dia, sem querer viu um pequeno brotinho sair de uma terra que aparentemente era seca. E isso, de fato lhe causou muito espanto muito grande pelo fato de não esperar nada daquela terra seca que, apesar de dar frutos, eram frutos que não tinham tanta vida.

AB34053, Frank Cezus /Taxi

Daquela semente especificamente ela se lembrava bem. Foi num dia de verão bem quente em que ela cismou de querer carregar o sol nas costas durante todo o dia e no final aprendeu que o sol era pesado demais para tê-lo nos ombros, se sentou no carro aconchegante e, com um pouco de medo da tempestade que envolvia o veículo por todos os lados que começou a jogar sementinhas de notas musicais para todos os lados enquanto se comunicava com o Grande Mestre que a ouvia atentamente.

Naquela ocasião ela não sabia que aquilo que ela lançava nas mãos do Grande Mestre eram sementes, ela achou que era simplesmente uma conversa entre Pai e filha, mas algumas sementinhas transbordaram e caíram em dois solos que ela não tinha consciência de estar plantando. E agora, tanto tempo depois, florescia esse brotinho tão promissor. E como isso era gratificante!

BB1425-003, Bob Thomas /Stone

Quando viu o brotinho todo verdinho cheio de vida surgindo ela, toda empolgada com aquele milagrinho, pediu no mesmo instante que o Grande Mestre a ensinasse a cuidar daquele projeto de plantinha e que Ele mesmo desse o devido crescimento e cuidado com o que ela já podia chamar de árvore.

E foi nessa novidade de plantação que passou o dia todo cantando, se alegrando e admirando a plantinha e agradecendo a bondade do Grande Mestre, que mesmo que não vejamos nada cuida de nós nos mínimos detalhes.

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