quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Sendo o AMOR um sentimento tão peculiar e diferente ele pode acabar?

Vai valer a pena mesmo?

Eram perguntas que percorriam as ideias dela de um lado para o outro sem dar um segundo sequer de descanso.

Acostumada desde muito cedo a ter todas as vontades prontamente atendidas, sem esforços intergaláticos, como uma princesa, se encontrava ali sentada naquela mesma sala de ensaio que até alguns meses atrás era uma amostra grátis de paraíso, mas já não era mais assim. Se tinha uma coisa que estava totalmente em falta pra ela ultimamente era a vontade de estar no meio daquelas pessoas que até tão pouco atrás eram como se sempre tivessem sido da família dela.

Ela chegou até a comunicar à Amigairmãmaisvelha o desejo de ir borboletar em outros jardins e fazer coisas novas fora dali, no que teve a aprovação da Amigairmãmaisvelha de pronto, mas no decorrer da conversa foi questionada sobre a opinião do Grande Mestre a respeito de todas essas andanças e ficou sem reação, pois de fato não havia ainda falado com o Grande Mestre a respeito.

High-Res Stock Photography: Young sisters sitting on opposite sides of…

Como a Amigairmãmaisvelha voltou atrás no que tinha falado e retirou a bênção com que acabara de cobrir os ombros dela, ela ficou sem querer sair desprotegida por aí, pois a capa da bênção era muito mais segura, confortável e ainda protegia da chuva. O fato de ter que ficar, porém, foi um peso que não estava esperando carregar. Pelo menos não por agora, e foi suportando o peso como quem começa exercícios físicos. Nesse intervalo foi falar com o Grande Mestre para que pudesse ter a tão sonhada liberação para sair de uma vez por todas daquela sala de ensaio que sequer conhecia agora do jeito que estava.

O tempo passou, o tempo que ela tinha disponível aumentou e... em um dos ensaios que começavam a fazer marrcas nas costas de pesados que eram ela levou um caderno para que pudesse se afundar na rede dos pensamentos e afim de não ser abordada por nada, nem ninguém. E deu certo!! As pessoas ficam receosas de interromper quando se faz cara de gente grande. E por alguns minutos com o sorriso no rosto ela pensou ter achado a fórmula mágica de suportar a estadia nos ensaios. Mas não foi exatamente assim...

High-Res Stock Photography: Homework 1

Houve tempos em que, por mais que demorassem a começar, por mais que o time masculino demorasse para aprender um acorde apenas e por mais que fossem prolixos os discursos, nada disso importava para ela, pois estava no meio da família que escolhera. Estava ali não apenas para cantar, pois podia cantar em qualquer lugar que desejasse, mas por um bom tempo foi ali que aprendeu a ver os olhos do Grande Mestre e sentia muito a falta Dele, principalmente naquele lugar. O fato de cantar alguma coisa era apenas uma consequência.

Ela gostava, porém da sensação que a música causava nela. E de olhos fechados, sem ver nada nem ninguém começou a cantar como se estivesse sozinha. Pra ela já não importava quem estava ao redor, tinha mesmo a impressão de estar no meio de um bando de desconhecidos, portanto... não fazia diferença. Foi quando sentiu um toque tão suave quanto uma brisa de domingo de manhã e não conseguiu segurar firme as comportas de lágrimas que se abriram involuntáriamente e não queriam por nada na face da terra serem fechadas.

Royalty-free Image: Crying child

Foi quando a Amigairmãmaisvelha começou a pedir perdão a todos coletivamente, foi citando nome por nome e estimulou que todos fizessem o mesmo. Todas as palavras que estavam na boca dela nessa hora saíram correndo e as lágrimas assumiram o controle da operação toda. Ela ganhou muitos abraços, alguns valeram para a eterniade, outro porém ela nem queria ganhar, recebendo por educação apenas. Ela pediu perdão para as pessoas que conseguiu com o sentimento de que não tenha nada para ser perdoado por aquelas pessoas e olhando para aquele dia poderia parecer uma atitude soberba do coração, mas na hora, pra ela, era somente um distanciamento da situação toda. Não sentia que tinha algum vínculo com aquelas pessoas todas.

De todos os pedidos de perdão que recebeu computou todos, achou alguns inúteis e outros ainda considerou com bastante amor, mesmo sabendo que no decorrer dos dias nada iria efetivamente mudar, como de fato não mudou e ela sabia disso de antemão, mas mesmo assim perdoou com todo amor que guardava ainda dentro dela mesma em algum lugar reserva. E foi nesse momento tão tagarela de lágrimas e mudo de palavras que o Grande Mestre disse que o lugar dela ainda era ali mesmo que ela quisesse tanto sair correndo e não voltar nunca mais.

Como o desejo do coração dela era nunca desagradar o Mestre ela apenas aceitou sem reclamar, sem questionar e sem  nem mesmo argumentar. Era difícil estar ali, mas ela sabia, bem ali, no coração dela que ainda que ela não merecesse e por mais que ela errasse o Grande Mestre sim era fiel não só para aliviar o fardo que ela pensava ser estar ali, mas para, no tempo certo, honrá-la por isso.

Royalty-free Image: Child holding adults hand close up

E eram essas perguntas que retiniam sem fim na cabeça dela ao fitar o rosto da Amigamãedetodas com as trancinhas de cabelo dançando como que em câmera lenta: Vai valer a pena mesmo? Isso tudo vai valer a pena mesmo? e O amor alguma hora acaba como se estivesse numa ampulheta? Como podem conviver num espaço tão curto de tempo o amor e a indiferença? E como que incansáveis essas perguntas ia rodando de um lado para o outro da cabecinha dela, cruzando entre si e às vezes parecendo que querendo se multiplicar.

Era fato que ela não sabia de nada disso, havia aprendido com as mesmas pessoas que ensinaram a ela o poder da unidade que bom mesmo era confiar única e exclusivamente nas mãos do Grande Mestre porque era a única firme de verdade, não precisava ficar dividindo os pedacinhos do coração com todo mundo ao redor dela. Ela poderia simplesmente guardar para si, mesmo que isso doesse em princípio.

E mesmo tendo feito isso ela não queria, mesmo assim estar ali. Tentou fechar os olhos e novamente cantar sem se importar com o que acontecia ao seu redor, mas foi inútil, pois cada um cantava uma coisa, de jeito, em uma hora diferente. Foi então voltou oss olhos para cima, fechou-os devagar, pediu perdão ao Grande Mestre por achar tão pesado um fardo que Ele mesmo disse que ela daria conta de carregar e pediu a Ele que mostrasse a ela a alegria escondida na vontade Dele, que era boa, perfeita e agradável.

A bexiga começou a dar sinais de cansaço com o peso de água que estava sobre ela bem na hora que terminaram as músicas, os avisos e a enrolação. Ela atendendo aos gritos da pobre bexiguinha correu para o banheiro para aliviar a carga da bexiguinha e, ao voltar, deu graças ao Grande Mestre por estar com o corpo bem dolorido da corrida do dia anterior, essa foi a brecha ideal para que ela sumisse dos olhos de tudo e de todos pelas escadarias afora...

sábado, 14 de maio de 2011

Tudo novo... de novo!

Um belo dia ela abriu o computador e alguns dos textos dela simplesmente haviam desaparecido. Ela não sabia se foi uma falha de servidor ou mesmo uma pane mundial, mas queria muito que todos os textos estivessem ali. E é claro que não estavam. Ela não se desesperou nem nada, mas se sentiu como aquele pastor que tinha cem ovelhas e uma delas fugiu e ele largou as noventa e nove no aprisco e foi atrás dessa fujona que faltava.

Ela não sabia bem por onde começar, não sabia sequer o que tinha escrito naquele pedaço de tela que tinha ido pra longe pra sempre, mas olhou pro alto e agradeceu ao Grande Mestre, autor e consumador da história, que tinha dado a ela todas as histórias que já tinha escrito e ensinou a ela a guardar cada uma delas.

112779440, Sharon Vos-Arnold /Flickr

O ponteirão do relógio correu depressa até completar uma volta inteira e finalmente apareceu o cabeçalho de um dos textos fujões, mas o cabeçalho por si não dizia nada uma vez que o texto tinha ficado enorme. Ela lembrou-se de algumas fotos que logo foi colando e pelejou para se lembrar de pelo menos um retalhinho daquela colcha toda, mas foi em vão. Agora até as palavras daquele texto todo fugiam da cabeça dela...

Foi nessa hora que percebeu que não precisava ficar olhando pra trás, para o que tinha deixado ao longo do caminho, foi o Grande Mestre que havia dado cada uma daquelas histórias nas mãos dela. E, se Ele quisesse, poderia dar tudo de novo.

Meio sem jeito por aquela coisa toda ela deu uma olhadela de lado para o Grande Mestre. Ele, com um sorriso no rosto retribuiu a ela o olhar e sorriu ainda mais mostrando todo o cuidado que Ele tinha para com ela, todo amor do mundo estampado nas mãos marcadas e todo carinho com que sempre cuidava dela. Estendendo então os braços, recolheu-a num abraço profundo e ela entendeu que a partir de agora, agora sim... era tudo novo! Porque era um novo começo, era uma nova história...

200209234-002, Lukas Creter /Stone+

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Mães de joelhos, filhos de pé

Toda essa coisa de ser mãe espiritual era ao mesmo tempo muito novo e muito diferente pra ela. Era estranho olhar para as pessoas quase da idade dela ou até mais velhas e ter que vê-las como embriões ainda.

Nesses dias ela vinha aprendendo a força que possuía uma conversa sincera com o Grande Mestre, que havia feito dela uma criatura justa. E ela se assentava aos pés do Mestre sedenta por ouvir a voz Dele e qualquer movimento que ele pudesse fazer. E ainda sem ser totalmente treinada nesse negócio de pedir ao Mestre em favor de outros se colocava a falar sem parar em favor das filhas que o próprio Mestre colocava nas mãos dela para cuidar.

56778262, MedicalRF.com /MedicalRF.com

Cada uma das filhas era ainda embrião de servas salvas, mas ela olhava e podia ver em cada ultrassom, em cada rostinho, a mulher que o Grande Mestre queria formar em cada feto que o útero espiritual dela abrigava.

E ela, assentada naquele auditório, ouvia atentamente e trocava experiências e histórias com outras mães que falavam longamente com o Mestre a respeito dos filhos e ficava feliz por ver que estava se saindo relativamente bem visto que era apenas uma grávida espiritual de trigêmeas. E ainda de primeira viagem.

Aquelas mães veteranas que já tinham filhos como que constelações, de tantos que eram, falavam sobre as expectativas, sobre os anseios, sobre as dores lancinantes do parto e sobre a forma como a alegria que podia dissipar toda dor que as contrações da parturição causavam tomava a forma de anestésico quando viam a carinha daquele bebezinho ainda todo sujo de útero.

Atenta a todas aquelas dicas e como que absorvendo cada detalhe para que pudesse cuidar melhor das filhas, do desenvolvimento de cada uma delas, ela entendia que quem faz tudo, desde a concepção até o milagre do nascimento é o Grande Mestre e Ele fazia como melhor O aprazia. E ela, sentada ali naquela reunião de mães de todas as idades, aprendia que por maior que o amor de mãe seja não existe amor maior do que o do Grande Mestre, porém mãe também ama e esses dois amores, apesar de terem o mesmo nome, são coisas extremamente diferentes.

Enquanto as mães querem criar os filhos pra elas somente e cuidar dos filhos pra sempre, o Grande Mestre queria um desenvolvimento consistente, um nascimento saudável e um crescimento sarado para que pudessem gerar outros filhos, pois quem ganha filhos é sábio.

88190318, altrendo images /Altrendo

Mesmo com o coração meio apertado de saber essas coisas os olhinhos dela brilhavam com a perspectiva de ver as filhas, que ainda eram embriões, gerar outros filhos e dar a ela muitos e muitos netos. Ela sabia, porém que havia ainda muito trabalho, muitas lágrimas e ainda muita e muita conversa aos pés do Grande Mestre Conselheiro para que ela pudesse ver as carinhas das meninas salvas.

Ouvindo os conselhos daquelas mães veteranas, mesmo que não direcionados especificamente a ela, que diziam que aos pés do Grande Mestre era preciso gastar no mínimo quinze minutos por dia e que com o passar do tempo de conversa isso seria muito pouco, ela olhou pro rosto do Grande Mestre e perguntou qual seria o próximo passo para a nutrição daqueles embriõezinhos, pois sabia que ainda não comiam comida como ela, teriam que se alimentar de alimento diferente.

200297210-001, Renaud Visage /Digital Vision

O Mestre, todo amoroso, devolveu a ela o olhar de pai que só Ele sabia fazer e a instruiu que zelasse pelas companhias das pequenas para que o joio não sufocasse aqueles brotinhos preguiçosos de trigo que estavam por crescer.  Ela sabia que as más companhias corrompem os bons costumes e ela não queria que aquela sementinha plantada e regada com tanto amor e carinho se transformasse em semente de abrolhos espinhosos.

Ela, de um pulo só, colocou-se de pé, reuniu algumas lembranças nos braços e toda empolgada começou a listar para o Grande Mestre todos os talinhos podres que precisavam ser podados como se Ele mesmo não soubesse. E mais uma vez, como em todas as outras, ela saía dali mais do que feliz com um sorriso indescritível estampado no rosto por causa da infinita fidelidade que Ele tinha para com ela.

108475270, Chris Stein /The Image Bank

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Um novo título

Desde muito pequenina ela brincava com a mãe em forma de piadas quando a mãe começava a cantar. Ela olhava para a mãe e dizia que o que a mãe tinha mesmo que fazer era ser intercessora, não dava pra cantar com aqueles acordes. E as duas se riam uma da outra por demais da conta com aquele gracejo uma vez que, naqueles tempos, a mãe não cantava tão bem como canta agora.

Ela não via como achar graça, porém no fato de a mãe ser mesmo intercessora e não sabia como a mãe podia aguentar ficar pedindo e pedindo e pedindo todos os dias ao Grande Mestre em favor de outras pessoas e até dela mesma. Ela não sabia que intercessão era muito mais do que isso e achava muito mais legal cantar, dançar ou mesmo argumentar com qualquer pessoa sobre o que quer que fosse, mas aquela coisa da intercessão não era bem o que agradava o coração agitado dela naqueles tempos. Ela que não gostava de pedir as coisas a ninguém nem pra ela mesma não via sentido algum em pedir alguma coisa pra alguém em favor de outro alguém. Não fazia sentido na cabeça dela naqueles tempos.

88146633, Design Pics/Steve Nagy /Design Pics


Ela sabia, porém que ser intercessora era um super dom que somente o Grande Mestre podia dar, pois não era fácil pedir ao Grande Mestre todos os dias que cuidasse e protegesse pessoas que não queriam nem ver o Mestre, quanto mais se relacionar com Ele. Precisava de perseverança, amor e persistência. Mas mesmo assim ela gostava de admirar essas coisas de bem longe, não queria chegar nem perto do tal do dom que ela mesma nunca teve e nem desejava ter pensando que era muito chato.

Mas a mãezinha dela não desistia de nenhuma daquelas pessoas por quem intercedia sem parar e sem pensar direito, simplesmente pedia. A mãe dela confiava mais do que tudo na fidelidade de um Grande Mestre Cuidador que permanecia fiel mesmo que ninguém mais fosse fiel. E confiava também que o Grande Mestre, na infinita bondade e misericórdia que tinha, honrava cada pedido de mãe conforme iam sendo pedidos como se as pessoas por quem a mãe pedia fossem, já no tempo que se chama hoje, justos e irrepreensíveis.

E para a mãe dela de fato o eram porque a mãe dela conseguia enxergar pelos olhos da fé. Olhos esses que não são visíveis com os olhos que as pessoas possuem para enxergar. São olhos que só o Grande Mestre pode ver, conhece bem e gosta muito mais deles.

Porém, numa tarde de muita festa, conversa, chá, risos e companhias inestimáveis o Grande Mestre pegou a boca da Amigamãedetodas emprestada e mandou que a Amigamãedetodas falasse que ela, pequenina que era ainda em oração, seria intercessora de muitos porque ela mesma passaria a ter filhos. Ela em nada questionou, mas queria muito abrir os olhos e ver se estavam falando de fato com ela que nunca desejou ter esse presente que era a intercessão, mas não teve jeito. Toda aquela conversa era de fato com ela.

E como era muito feio recusar presentes ela aceitou de bom grado e ainda agradeceu o presente que o Grande Mestre tinha acabado de dar. Ela não sabia ainda pra que aquilo servia, mas guardou com zelo porque mesmo pessoas más podem dar coisas boas aos filhos, quanto mais o Grande Mestre que é bom.

sb10069783b-004, Jose Luis Pelaez /Iconica

Ela recebeu e abriu dando uma olhadela, porém guardou pela falta de habilidade em orar, pedir e mesmo conversar que possuía. Deixou reservadinho pra quando precisasse ou pra quando tivesse oportunidade de usá-lo. E esse dia chegou antes mesmo que pudesse se dar conta.

No dia seguinte em que soube que seu útero espiritual agora estava habitado e ela se tornara uma grávida, ela ficou tão esfuziante que logo ligou pra Amigamãedetodas pra contar a novidade e percebeu que a voz da Amiguinhamãedetodas estava alterada por algum motivo, mas como não podiam falar muito bem entre si nada questionou e nem chegou a dar a noticia de gravidez por completo.

Logo que terminou com a voz da Amigamãedetodas o Grande Mestre iniciou a voz Dele e disse que era pra ela pegar aquele donzinho que estava guardado com tanto cuidado no fundo do baú do comodismo. Ele tinha dado a ela naquela reunião e não era pra ficar guardado para não estragar, era pra usar sempre para que fosse renovado como as baterias dos carros como o recémirmão tinha ensinado a ela.

Ela, obedecendo de imediato, pegou o donzinho de lá de dentro meio frio ainda por causa da umidade, abriu aquela caixinha delicada e tirou o presente tão brilhante que havia ganhado do Grande Mestre. Ficou olhando por um tempo e logo colocou o dom na boca. Aquele donzinho foi crescendo, crescendo até tomar forma de som de muitas águas e ela ficou ali tocando aquele dom no instrumento de cordas que o Mestre havia colocado na garganta dela por muito tempo.

Sem perceber foi pedindo ao Grande Mestre que consolasse, controlasse, protegesse e acalmasse o coração da Amigairmãmaisvelha que ela já não via e nem tinha notícias há tanto tempo e agora mesmo estava em viagem, pedia em favor de cada uma das filhas, que ainda eram substância informe no ventre espiritual dela, pedia que limpasse a vida dela mesma e desse sabedoria para discenir as coisas, cada uma a seu tempo. O foco daquela conversa, porém era mesmo a Amigamãedetodas para quem ela pedia ao Mestre proteção e cobertura na vida da Amigamãedetodas que ela não sabia para onde ia naquela hora, só sabia que através do tom de voz da Amigamãedetodas o coração de uma mandou uma mensagem para a outra em coraçõnês de que algo precisava ser feito.

Aquela conversa com o Grande Mestre durou por longas horas e ela não queria e nem conseguia parar. Foi um tempo em que o cérebro dela foi obrigado a parar não só para falar das coisas do espírito deixando a alma de lado, mas também para ouvir o que o Grande Mestre tinha para falar. E ela se deixou embalar por aquela prosa inesperada na viração do dia até se encher totalmente de alegria.

Muito e muito tempo depois o Grande Mestre olhou pra ela e disse que já era suficiente o uso daquela porção do dom naquele dia, mas que daquela hora em diante teria que usar sempre pra não enferrujar e para as traças não comerem por ser doce como mel. Ela pegou alguns doces para as meninas que viraram filhas, saiu daquele lugar e colocou-se a agradecer ao Grande Mestre pela excelente oportunidade de poder fazer parte disso tudo com Ele.

O Grande Mestre pegando uma dose extra de paz para que o coraçãozinho dela pudesse tomar derramou a porção dobrada dessa paz sobre ela e disse: De agora em diante o seu nome será intercessora e você será chamada por esse nome e atenderá por ele. Caindo na gargalhada ela aceitou o novo título com a alegria que só pode vir do trono da graça e passou a carregar um documento de identidade com o novo nome dado pela pessoa que, pra ela, era a mais importante do universo como se fosse um novo dom, um novo presente.

89291717, Chris Ryan /OJO Images

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Cunhado ou recém-irmão?

Ela não sabia muito bem por quê, mas estava ali sentada manuseando todas aquelas pecinhas brilhantes que o Grande Mestre colocou nas mãos dela para que ela se alimentasse e isso dava bastante saudade da Amigairmãmaisvelha que deu a ela muitas e muitas daquelas histórias.

Na verdade só de se sentar perto da Amigairmãmaisvelha já era suficiente para nascer boas histórias. Olhando pra todas aquelas pecinhas, porém, se pegou a pensar no cunhado que conhecera há tão pouco tempo e já era tão polêmico entre elas.

O cunhado era ao mesmo tempo sério e misterioso em sua forma de ser e algumas vezes ela mesma tinha ficado irritada só de olhar pro rosto meio sombrio do cunhado, mas por causa do amor de irmã que tinha pela Amigairmãmaisvelha reunia toda educação que a mãe educadora que tinha deu a ela e simplesmente sorria em silêncio.

E foi enveredando por esse caminho que se lembrou do dia em que o cunhado deixou de ser cunhado e passou a ter um pedacinho de irmão dentro dela. Era um dia de festa como elas sempre costumavam ter e ela estava ansiosa pela chegada da Amigamãedetodas naquele lugar que já estava cheio. Colocou-se de pé a procurar um lugar para que pudessem acomodar a Amigamãedetodas com toda a prole que carregava sempre e de repente viu uma mãozinha tentando chamar a atenção dela.

A Amigairmãmaisvelha a chamava para abraçar o cunhado, que naquele contexto já era mais aceitável do que simplesmente marido da irmã. Naquela hora ela percebeu que tinha certo receio do cunhado e não sabia como se comportar perto de alguém que tinha visto somente uma vez, mas que ouvia tanto falar. Por pura educação se levantou e se dirigiu a eles com um sorriso artificial, mas carinhoso, desenhado no rosto e o cunhado a recebeu com simpatia.

Desde aquele dia a capa de cunhado de aquele ser cunhava foi deixada de lado e foi-lhe colocada coroa de irmão, que passou a frequentar com bastante frequência as conversas que ela tinha com o Grande Mestre. Como ela conversava sempre, sempre com o Mestre, ela falava que queria que o recém-irmão usasse não só a coroa de irmão que tinha acabado de ganhar, mas também vestes de louvor como a Amigamãedetodas já usava há tempos, como a Amigairmãmaisvelha vinha usando o tempo inteiro e como ela mesma estava aprendendo a usar com o passar do tempo e com a convivência constante com as duas.

O que ela não sabia, porém, é que a oração de um justo vale muito, muito, muito pelos efeitos que pode produzir. E ela não era a primeira, não era a única e nem seria a última a falar com o Grande Mestre para que as roupas do recém-irmão fossem trocadas. E o Grande Mestre ouvia tudo aquilo em silêncio aquecendo as mãos para começar o trabalho que faria por completo na vida do recém-irmão.

Depois dessas coisas ela ficou muito tempo sem ter sequer uma notíciazinha do menino recém-irmão. Às vezes os encontros com a Amigairmãmaisvelha eram corridos demais para se aprofundarem em algum assunto específico e preferiam contar tudo sem detalhar do que contar uma só coisa, mas ela mesma não deixava de falar ao Grande Mestre que agora tinha um recém-irmão que precisava urgentemente de roupas novas.

As folhinhas do calendário foram caindo pelo chão e sendo varridas junto com a mudança de estação que anunciava a chegada e instalação do outono, sempre apressado em correr e ventar em tudo o que via pela frente. E foi numa manhã quente e seca de domingo outonal que, sem esperar muito encontrou novamente o recém-irmão e pôde conversar melhor com o menino de estatura esticada que ele era.

Dessa vez o recém-irmão usava uma máscara estranha que o Grande Mestre já tinha falado que cairia sem que ninguém esperasse, mas o Mestre mesmo só mostraria para uma única pessoa, que era a Intercessora do recém-irmão.

Já havia muito tempo, tanto que não era possível nem contar, o Grande Mestre olhou para os olhos naturalmente grandes da Amigairmãmaisvelha e disse que dali em diante ela se chamaria pelo nome de Abigail, que quer dizer inteligente e formosa. A Amigairmãmaisvelha retribuiu o olhar toda sorridente e disse: Eis-me aqui, pode me usar da maneira que queres. E foi assim coroada como intercessora do marido, à qual o Grande Mestre ainda mostraria muitas coisas novas que a Amigairmãmaisvelha mesmo não podia sequer imaginar.

E ela conversava com o recém-irmão meio sem jeito pela falta de contato e ficou admirada com o volume de informações automobilísticas que aquela cabeça podia guardar. Parece que foi o assunto certo o tal do carro, mas ela mesma dominava muito pouco da arte das rodas e deixou o recém-irmão falar o quanto pôde e o quanto quis.

Quando estava prestes a começar a celebração interrompeu-o com serenidade, levantou-se rapidamente e de um giro de calcanhares correu para o lado da mãe e deixou que o recém-irmão se entendesse com o Grande Mestre sobre qual seria o lugar dele naquela sala de adoração.

E o recém-irmão, parecendo se sentir bastante à vontade ficou ali com os carros imaginários que desmontaria e remontaria como troféus todo orgulhoso da obra que tinha feito. E ela ficou feliz não só por receber o recém-irmão na casa do Pai, mas também de poder compartilhar aquelas coisas com o menino recém-irmão

 200414148-001, David C Ellis /Riser

E mais uma vez, depois daquela festa, o relógio ordenou que os ponteiros corressem depressa, pois tempo é sempre apressado mesmo e não via há tempos nem sinal do recém-irmão e nem da Amigairmãmaisvelha que a tinha deixado com saudades.

Até que uma notícia do menino recém-irmão trazida pela anunciadora de boas novas que a Amigamãedetodas era fez o coraçãozinho dela sorrir de satisfação e alegria ao mesmo tempo.

No dia que se chama Hoje o Grande Mestre ordenou com voz de autoridade que o recém-irmão, distraído que era, parasse tudo, tudo, tudo o que estava fazendo e ouvisse o que o Mestre tinha a dizer. E não era pouca coisa! Um tanto quanto sem escolha, o recém-irmão parou e colocou-se de pé para que o Grande Mestre pudesse falar. E naquele ato de fé pueril do recém-irmão o Grande Mestre falou mesmo ao coração do menino recém-irmão que aquele mês de julho era. E como chuva de fim de outono, os olhos do menino recém-irmão choveram sem medida e regaram todo o rosto dele, que já não podia ficar indiferente.

E ouvindo aquelas boas novas ela sabia que aquilo tudo era pouco na verdade, mas ela via o coração do recém-irmão como uma pedra enorme, de proporções gigantescas que não era possível quebrantar e aquela fontezinha que se fez nos olhos do recém-irmão eram muito mais do que parecia. O modo mais fácil de quebrantamento era um explosivo chamado dinamite, mas isso causaria muitos danos áquela pedra e não era da vontade do Grande Mestre que nenhum sequer se perdesse, por isso a Amigairmãmaisvelha usou outro artifício e colocou-se a martelar constantemente aquela pedra de coração.

Durante muitos e muitos anos, todos os dias a Amigairmãmaisvelha batia cada vez um pouquinho e com cuidado para que não ferisse, mas fizesse o impacto necessário. E por todo esse tempo não era possível ver nenhum resultado, a pedra continuava tão dura como estava na primeira martelada, e a Amigairmãmaisvelha usava toda paciência, amor e perseverança que o Grande Mestre ia derramando nas mãos afiadas para a batalha que dera à Amigairmãmaisvelha.

Aquela fontezinha que jorrava do olhar do recém-irmão, na verdade, era uma fendinha na pedra dura de coração que o recém-irmão tinha no peito. E por fora ainda era apenas um buraquinho, mas as marteladas que a Amigairmãmaisvelha ia dando no coração de pedra fizeram com que o coração fosse se quebrando aos pouquinhos de dentro para fora no acumular dos anos. Por isso não era visível o processo. O coração do recém-irmão começou a se quebrar onde ninguém via ainda, e agora as rachaduras já apareciam um pouco na superfície.

E ela, esbaforida que era, já estava radiante de imaginar todas essas coisas e queria muito saber de todos os detalhes, mas isso ainda não era acessível pra ela por enquanto. Nem mesmo pra Amigairmãmaisvelha, inercessora do menino recém-irmão essas coisas estavam disponíveis ainda, o que significava que poderia demorar um pouco a chegar pra ela os detalhes. Mas estava feliz demais pra pensar nisso.

E sem se importar muito com os tais dos detalhes que ela queria tanto, ela abriu a boca e agradeceu ao Grande Mestre longamente por já estar trocando as vestes do recém-irmão mesmo que o menino não percebesse. E ela cantava e bendizia o Grande Mestre da salvação por aquelas coisas maravilhosas.

Foi então que se encheu de mais alegria ainda e pediu que o Grande Mestre continuasse a boa obra que havia iniciado e levasse até o fim, o que ela sabia que o Mestre faria, pois é fiel e justo para cumprir tudo aquilo que prometeu.

Foi assim que ela foi dormir, sorrindo para o Mestre, e já imaginando e tecendo pela fé a cena em que ambos, Amigairmãmaisvelha e o menino recém-irmão, consortes que já eram, andando sob a mesma bênção, sob a mesma missão confiada a eles e dando suporte um ao outro incessantemente de joelhos para não cair como fora desenhado pelo Grande Mestre desde a fundação do mundo, formariam um cordão de três dobras que não se arrebenta nunca pela força que tem.

103435953, paul mansfield photography /Flickr

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Filhos...

Nessa primeira noite fria de outono vigorante o vento insistia com firmeza em atrapalhar os cabelos dela que foram suavemente arrumados pela mãe cuidadosa que tinha. Ao mesmo tempo que se sentia friorenta na estação de trem, quando colocava o casaco sentia calor e vontade de tirá-lo. Decidiu então que simplesmente seguraria o casaco sobre os braços e mudaria de um braço para o outro, caso fosse necessário. E assim ficaria quentinha somente o suficiente, sem sentir calor.

Ali, parada e distraída com a força do vento e com o próprio desengonço em arrumar o cabelo, arrumar a blusa e segurar o frio ficou pensando em como aliviar um pouco a tensão da bolsa, que também incomodava e já começava a pesar, já que segurava a blusa nos braços para não sentir todo o frio que a estação sugeria. Foi então que, ainda se ajeitando, ao olhar pra baixo viu uma junta de ratinhos dançarinos que, à sua maneira faziam uma coreografia estranha e muito engraçada entre os ferros dos trilhos.

85041130, Julie Toy /Taxi

Ela já havia visto muitas e muitas vezes os tais ratinhos a dançar e brincar nos pedaços de concreto que compunham o caminho do trenzinho, mas dessa vez eles eram muitos e já não conseguia contar com precisão, pois corriam tão depressa que se perdiam entre eles mesmos. Normalmente ratinhos como aqueles eram nojentos, mas dançando daquela forma eles ficavam fofos. Eram pequeninos e de tanto que se cruzavam já quase não podiam se distinguir um do outro. Havia, porém um menor e mais ágil, havia um outro mais gordinho, havia ainda outro que balançava a cauda com tanta velocidade que parecia em preparação para alçar voo.

E contemplando todo aquele balé que os ratinhos faziam com maestria entre os trilhos de concreto e ferro, começou a se lembrar da Amigamãedetodas que durante uma longa conversa entre elas, família que eram todas, com o Grande Mestre, Ele mandou que a Amigamãedetodas dissesse em alto e bom tom que ela, menina que era, seria mãe de muitos filhos. E não somente filhos de sangue que saem da barriga da gente, mas filhos que se achegariam para que fossem cuidados na alma.

Ela, cuidadora e serva que era por natureza gostou muito da ideia, mas não se sentia apta para cuidar de outras pessoas, mas mesmo assim agradeceu ao Grande Mestre por confiar às mãos dela tão precioso presente. Foi então que a Amigamãedetodas, parecendo que sabendo dos pensamentos dela logo disse que o trabalho dela, dali em diante, seria pedir ao Grande Mestre por todos aqueles filhos que o Mestre mesmo colocaria nas mãozinhas dela. E o Mestre mesmo cuidaria de tudo, desde a concepção até o nascimento.

89055141, David Young-Wolff /Photographer's Choice

Aquilo trouxe muita paz e alívio ao coraçãozinho dela, pois já havia cuidado de muitos, mas nenhum como filhos mesmo. Gostava de cuidar das pessoas, mas filhos eram diferentes! A responsabilidade dos filhos é inteiramente da família, e precisam de ajuda para comer, para dormir, para se manterem limpos, enfim, para TUDO. Ela sabia, porém que quando a mãe está de joelhos os filhos ficam de pé, saudáveis e em caminho reto. E isso era muito novo pra ela no papel contrário de filha, ela ainda não tinha experimentado nada igual até agora.

Como  conhecia, entretanto o Grande Mestre e sabia que a Amigamãedetodas falava exatamente o que o Mestre havia mandado, o coraçãozinho dela se encheu de alegria por todos os filhos de fé que teria e fez exatamente como as mães mais experientes fazem, chorou de alegria. Já podia ver em algumas situações e conversas depois daquele dia alguns sinais de gravidez prematura.

E se alegrava com isso! Até porque parecia que estava ficando semelhante a Amigamãedetodas, que tinha muitos filhos que não chegou a gerar, outros com os quais conviveu por breve tempo, mas cuidava com o mesmo carinho e afeto de todos eles, não só dela, mas da Amigairmãmaisvelha e de todos que receberam o Grande Mestre e foram escolhidos para serem chamados filhos Dele, a saber, os que creem que o Grande Mestre existe e é galardoador daqueles que O buscam.

Nenhum sintoma e sinal que apresentara até agora, todavia chegaram sequer a serem comparados àquelas horinhas anteriores que tinha acabado de viver. Pela primeira vez desde aquela reunião em que o Mestre havia dito tais coisas ela se sentiu realmente grávida com direito a barrigão e tudo mais.

89622089, Brandy Anderson /Flickr

O Grande Mestre preparou algumas horas para que ela ficasse de conversa à toa com a amiga dos cabelos de fogo e pudesse falar do amor que Ele, Mestre e pai zeloso, tinha pelos cabelos de fogo que aquela menina era inteira. E sentada ali naquele lugar barulhento que foi ficando cada vez mais calmo para que ela pudesse ser ouvida, ela se pegou a conversar com a amiga dos cabelos de fogo como mãe mesmo. Mãe que cuida, que ama incondicionalmente e que quer o melhor para aqueles a quem gerou. E quanto mais ela falava mais crescia dentro dela o amor que já tinha por aquela menina dos cabelos de fogo com quem já convivia a tanto tempo.

Enquanto falava sem parar por observar que cada palavrinha era de fato absorvida, ela se pegou a contar várias histórias com maestria que não sabia que possuía e contou desde as promessas e alianças feitas pelo Grande Mestre eras atrás até a saída de um povo que fora escolhido a dedo da terra do Egito e como o cuidado de pai do Grande Mestre não muda. E a menina que estava bem na frente dela, de olhinhos fixos e molhados, prestava atenção a cada detalhe sem desgrudar o olhar dos olhos dela.

E ela, mãe recém-nascida que era, com vontade de abraçar e acariciar os cabelos da filha, que mesmo ainda não tendo nascido de fato estava em formação no ventre espiritual que ela tinha. E foi nessa hora que percebeu que aquele embriãzinho de que cuidava todas as madrugadas para que tivesse um crescimento adequado e chegasse a feto formado com sucesso não era mais um amontoado de células indefinidas que não se sabia o que era, tinha agora adquirido algumas forminhas que já dava para identificar.

306540-001, Neil Harding /Stone

Já se podia ver as mãozinhas, os pezinhos e os cantinhos dos olhos, que ainda que fechadinhos eram olhinhos, dava pra ver algumas partes dos órgãos vitais e pela fé dava para ver até os dons e talentos daquele bebezinho em formação que crescia na barriga dela.

E ela, extasiada, maravilhada com aquele milagre da criação que crescia rápido se alegrou como uma mãe que sai do consultório médico com o ultrassom nas mãos e dava pulos de alegria e falava sem parar com o Mestre que tinha dado tamanho presente nas mãozinhas dela para que ela cuidasse e conduzisse. E não conseguia parar de agradecer pela infinita misericórdia que o Mestre tinha para com ambas, recém-mãe e recém-filha de poderem estar ali sentadas aos pés Dele trazendo à memória coisas que dão esperança.

88190142, altrendo images /Altrendo

Sentindo o pesar de serem interrompidas pelo movimento, pelo barulho e principalmente pela hora elas se levantaram dali e ela, como recém-mãe que era, ainda sem ter passado por todo trabalho de parto segurava orgulhosa a barriga com todo carinho como se já carregasse a filha, que crescia bastante em pouco tempo ali dentro e pedia ao Grande Mestre que essa gestação fosse levada até o final com saúde, e mais do que isso, que o Mestre colocasse nas veias daquele bebezinho o sangue Escarlate do Cordeiro que foi morto, mas venceu e hoje reina para sempre.

107992416, Mark Alberhasky /Science Faction

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Sementinhas

Já fazia algum tempo que ela vinha andando com um pote enorme de sementes nas mãos. Ela olhava as sementes e cada uma parecia ter uma característica, forma e tamanho diferentes. As sementes que ela carregava eram sementes vivas, que podiam fazer florescer vida onde caíssem.

Sabendo disso, e sabendo como era bom ter aquela sementepalavraviva dentro dela, há muito tempo ela vinha andando e semeando por onde quer que pudesse. Muitas vezes ela não sabia bem onde aquelas sementinhas cairiam, mas ela não se importava com isso. Mesmo que as sementinhas, preciosas que eram, caíssem em solo duro de asfalto ela acreditava que o asfalto podia se rachar bem no lugar que foi largada a sementinha a qualquer momento e assim, brotar alguma vidinha por milagre.

200359797-001, Hayley Harrison /The Image Bank

Às vezes ela segurava aquele pote cheio de grãos de todos os tamanhos, formas, aspectos, cheiros e aparências e ficava admirando cada palavrinha viva em forma de semente e se colocava a pensar como aquelas bolotinhas de palavras, mesmo sendo pouquinho, eram tão preciosas. E como podia uma semente, mesmo sendo apenas uma sementinha, servir tanto para semeadura quanto para alimento dela própria.

E quanto mais ela semeava e apreciava aquelas sementinhas mais elas se multiplicavam. Isso dava a ela mais fôlego para continuar a semear cada dia mais e mais como havia aprendido antes cedo do que tarde com a Amigairmãmaisvelha e com a Amigairmãsensata. E, de certa forma, imitando o jeito como a Amigairmãmaisvelha mesmo havia feito com ela quando plantou sementinhas de liberdade na terra do coração dela quando ela ainda nem sabia andar direito.

De todas as sementes que ela andava jogando por aí, porém, não sabia do destino, do resultado de nenhuma ainda. Nunca chegou a ver nenhum brotinho que pudesse tomar como embrião de planta, ou mesmo como bebê de planta. Mas ela mesma não tinha ainda se atentado para tal fato. O que importava realmente era jogar a semente, pois ela sabia que uns plantavam, outros diferentes dos primeiros regariam e outros ainda colheriam os frutos, mas o crescimento de fato vinha do Grande Mestre criador dos céus e da terra que era o único que podia preparar cada terra.

sb10063647w-001, Brand New Images /Stone+

E foi assim, andando, chorando e semeando que um dia, sem querer viu um pequeno brotinho sair de uma terra que aparentemente era seca. E isso, de fato lhe causou muito espanto muito grande pelo fato de não esperar nada daquela terra seca que, apesar de dar frutos, eram frutos que não tinham tanta vida.

AB34053, Frank Cezus /Taxi

Daquela semente especificamente ela se lembrava bem. Foi num dia de verão bem quente em que ela cismou de querer carregar o sol nas costas durante todo o dia e no final aprendeu que o sol era pesado demais para tê-lo nos ombros, se sentou no carro aconchegante e, com um pouco de medo da tempestade que envolvia o veículo por todos os lados que começou a jogar sementinhas de notas musicais para todos os lados enquanto se comunicava com o Grande Mestre que a ouvia atentamente.

Naquela ocasião ela não sabia que aquilo que ela lançava nas mãos do Grande Mestre eram sementes, ela achou que era simplesmente uma conversa entre Pai e filha, mas algumas sementinhas transbordaram e caíram em dois solos que ela não tinha consciência de estar plantando. E agora, tanto tempo depois, florescia esse brotinho tão promissor. E como isso era gratificante!

BB1425-003, Bob Thomas /Stone

Quando viu o brotinho todo verdinho cheio de vida surgindo ela, toda empolgada com aquele milagrinho, pediu no mesmo instante que o Grande Mestre a ensinasse a cuidar daquele projeto de plantinha e que Ele mesmo desse o devido crescimento e cuidado com o que ela já podia chamar de árvore.

E foi nessa novidade de plantação que passou o dia todo cantando, se alegrando e admirando a plantinha e agradecendo a bondade do Grande Mestre, que mesmo que não vejamos nada cuida de nós nos mínimos detalhes.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Só Ele pode transformar carbono em diamante

Domingo de manhã de sol temperado e gostoso nas terras da cidade paulista que já era casa permanente dela. Só isso já bastava para ser um dia mais que perfeito. Logo pela manhã juntou todas as forças que possuía e conversou longamente com o Grande Mestre que a abraçava sem parar. E ela, carinhosa e manhosa que era, se deixava abraçar como se fosse criança pequena e aproveitava ao máximo o carinho matinal do Grande Papai bondoso que ela amava tanto. Conversaram longamente sobre os últimos dias, sobre o dia que ainda estava nascendo na janela dela e finalmente se levantou para o chuveiro que a chamava ainda com preguiça.

Ela tinha que sair depressa porque o Grande Mestre tinha ainda muitas coisas pra falar, mas tinha que ser em conjunto. Dessa vez não era só pra ela, ainda tinha muito mais gente para ouvi-Lo. Ouvir o Grande Mestre nunca era demais e ela estava feliz de ir até lá só para que Ele pudesse falar mais uma vez ao coraçãozinho dela que não se acostumava mais a ficar sem aquela voz mansa e suave que trazia conforto ao coraçãozinho.

Ainda no caminho, preocupada, colocou-se a pensar em como estaria a Amigamãedetodas que não podia estar com todas elas naquela manhã por ter que cuidar dos últimos preparativos para que ela mesma, carboninho que era, fosse lapidada na pressão certa para se tornar o diamante que o Mestre idealizara. De tão pequeno que era aquele carboninho nem podia ser chamado carbono porque carbono era alguma coisa maior. O carboninho tinha que ser chamado de átomo porque só podia ser visto na mira de um microscópio bem poderoso.

Mas mesmo assim o Grande Mestre enxergava o átomo carboninho que ela era e sabia até quantos fios de cabelo estavam na cabeça dela, o que não era nada fácil de saber. E cuidava com todo carinho daquele átomo como se já fosse pedra preciosa. A Amigamãedetodas, esperta que é, sabia que o carbono, apesar de ser somente um átomo, é um elemento notável por várias razões e sabia também que o Grande Mestre mesmo já havia falado coisas muito grandiosas a respeito disso. Uma dessas razões é que o carbono pode virar vários elementos diferentes se ligado à outros determinados elementos.

sb10065243h-001, Jeffrey Hamilton /Digital Vision

Nessa faze as companias são fundamentais para que o pequeno átomo se torne definitivamente quem deve ser. Se o carbono se unir a mais três carboninhos ele se torna um simples grafite que seria usado em alguma lapiseira, lápis, para conduzir um pouquinho de eletricidade inútil ou mesmo desenharia muito nas mãos de algum habilidoso artista para fazer desenhos. Se fosse unido com mais quatro átomos de carbono como ele mesmo viraria um outro tipo de grafite e também não passaria de um objeto comum para ser usado rotineiramente e até largado por aí. Se fosse ligado a outros átomos ainda viraria carvão. E foi por isso que o Grande Mestre cuidou para que a Amigamãedetodas podasse ao máximo todas as companias que pudessem atrapalhar o processo de diamantização daquele átomozinho e quisesse levá-lo a carvão que serve somente para ser queimado.

76128281, Dave King /Dorling Kindersley

A Amigamãedetodas sabia dessas coisa, pois o Grande Mestre já havia falado, mas sabia também que esse mesmo átomo de carbono, unido a esses quatro outros átomozinhos certos, se submetido a uma pressão adequada, que era tão alta que só o Grande Mestre saberia fazer, viraria um lindo e precioso diamante muito brilhante nas mãos habilidosas do Grande Mestre que faria coroas de honra com o, até então, átomozinho. O que tinha de ser feito era determinar o átomo certo a se juntar a ela, átomozinho insignificante.

Ela, átomozinho que ainda era, fez um sinal para a Amigamãedetodas alguns dias atrás naquele ajuntamento que a Amigairmãmaisvelha organizara sinalizando que a barriguinha não ia nada bem. Ela não sabia explicar direito o que sentia, mas estava desconfortável naquela sala um tanto quanto abafada. E a Amigamãedetodas, sem que ninguém soubesse apresentou tanto o desconforto que ela sentia quanto a barriga dela para o Grande Mestre que pediu para que ambas, tanto ela quanto a Amigamãedetodas, saíssem dali e fossem para um lugar um pouco mais afastado a fim de clamarem para que Ele limpasse o interior dela para que pudesse fluir, sem nenhum impedimento, o rio de águas vivas que Ele mesmo havia plantado no jardim fechado em construção que havia dentro dela.

Naquela hora, mesmo sem ela saber, começava uma revolução dentro dela e o Grande Mestre tinha pressa de limpá-la e pressa de que desse tudo certo. A Amigamãedetodas, cuidadosa que era, viu que todo esse processo havia se iniciado e sentindo a pressão que estava por vir do Grande Mestre para transformar carbono em diamante, acabou tomando todas as dores e tendo efeitos colaterais muito fortes por ela, por saber que ela, sozinha, não conseguiria suportar tamanha pressão para virar diamante reluzente e sem risquinhos.

93012494, Tooga /The Image Bank

A Amigamãedetodas, já sentindo as dores como que de parto, mandou que ela retornasse ao lugar de que ambas saíram e ela, sem saber muito bem o que estava acontecendo obedeceu sem questionar e só percebeu mesmo a força da pressão da lapidação quando vinha em direção à Amigairmãmaisvelha, que estatelou os olhos enormes de estrela e olhava fixamente para a Amigamãedetodas que ficara atrás dela. E ela, sem muita coragem de olhar pra trás, se apoiou no olhar e na voz da Amigairmãmaisvelha e continuou a andar em frente.

E daquele dia em diante o Grande Mestre aumentou ao máximo a pressão ao ponto de a Amigamãedetodas se enfraquecer até o leito e não poder se levantar por muitos dias. A Amigairmãsensata, que acompanhava tudo aos pés do Grande Mestre, assustada, transmitia as instruções que o Grande Mestre dava à Amigamãedetodas a ela para que ela pudesse se movimentar enaquanto a Amigamãedetodas suportava toda pressão que o Mestre sabia que ela podia suportar.

E naquela manhã de domingo ensolarado, ali sentadinha no banco do carro, ouvindo o Grande Mestre falar que a amava tanto a ponto de não deixar nada que fosse das trevas a tocar ela pensava nessas coisas e pedia a Ele que levantasse daquele leito a Amigamãedetodas e restaurasse as forças da Amigamãedetodas como se fosse nova em folha. Depois daquele pedido ao Grande Criador do céu, da terra e dela mesma, ela descansou confiando que o Grande Mestre é fiel e justo para fazer não só isso, mas muito mais.

Aquela manhã virou tarde e logo depois início de noite e o coraçãozinho dela sabi que a Amigamãedetodas havia se reestabelecido, mas ao mesmo tempo precisava ouvir a voz da Amigamãedetodas para saber como realmente se restabelecera e como tinha sido suportar a pressão máxima que o Grande Mestre tinha colocado.

Do outro lado do telefone a voz firme da Amigamãedetodas foi contando todas aquelas coisas tinham se passado na panela de pressão em que tinha entrado e ela começou a entender que fazia parte de algo muito maior do que simplesmente virar diamante. O Grande Mestre estava construindo coroas de glória com aquela lapidação toda.

200282584-002, Siri Stafford /Stone+

Ela mesma precisava usar uma coroa de diamantes, pois era parte parte integrante das vestes reais que ela vinha, até então, vestindo dia após dia. Essa coroa ainda inacabada era apenas mais uma peça do traje real que tinha véu de estrelas preparado pelo Grande Artesão do universo.

À medida que a Amigamãedetodas foi contando cada etapa do processo de pressão que suportou no lugar dela ela ia entendendo com mais clareza cada peça da roupa de louvor que estava usando, mesmo que ainda faltasse muitas peças. E foi entendendo também que ser coroa só para ela mesma era desperdício e que o Grande Mestre não faz nada para ser desperdiçado, por isso, no momento oportuno a colocaria como coroa do marido que Ele mesmo deu a ela por casamento, escolhido dentre os príncipes de vestes reais como as que ela tinha agora.

Daquela hora em diante ela escolheu aproveitar ao máximo o que o Grande Mestre estava fazendo e resolveu que queria ser coroa também para os pais, para as amigas e para as autoridades. E aquilo a encheu de alegria, pois era muita honra para um átomo tão pequeno!

E ali deitada, extaasiada com a grandiosidade do nome do Mestre, percebeu que tudo isso só acontecia por um único e maior motivo: o Grande Mestre mesmo atrai os que são dele com laços de amor. Tudo isso para que ela olhe continuamente pra Ele.

200282584-003, Siri Stafford /Stone+

domingo, 17 de abril de 2011

Easy like a sunday morning

Domingo sempre se fazia um dia muito gostoso! Mesmo que não fosse de sol ou de cheiro de grama de manhã. Mesmo que tivesse que ir trabalhar. Domingo era domingo e por si só bastava! Aquele domingo porém, era domingo de festa, mais especial ainda. E naquela festa haveria gente de muitas tribos, povos, línguas e nações e ela gostava muito da mistura de sons que isso fazia.

200160445-001, Chev Wilkinson /Stone+

No coração dela a expectativa era maior ainda pois sabia que estava prestes a ver o Grande Mestre fazer coisas grandes e novas que só Ele sabe. Ela sabia que o Mestre estava ávido por usar a boca disponível que havia saído de tão longe, lá daqueles estados todos unidos, para se abrir ali na paulista cidade que a acolhera e nem mesmo falava o idioma que ela ouvia desde que nasceu.

Como não bastasse a melhor presença da face da terra que o Grande Mestre poderia proporcionar sozinho, estaria também naquele lugar a Amigairmãgêmea, que a aguardava desde o dia anterior, a sobrinha dos olhos de piscina, que era uma compania cinco estrelinhas e a Amigairmãmaisvelha, que ansiava por abraçar havia muito tempo. Ainda de bônus, o cunhado que ela não esperava e nem ao menos conhecia direito. Só faltaria a Amigamãedetodas e a Amigairmãsensata para que ficasse perfeito, mas elas estavam impossibilitadas de comparecer.

78455979, Comstock /Comstock Images

Afastando toda ansiedade gostosa de expectativa, ela levantou-se mais cedo para conversar com o Mestre a sós um pouco antes de se ajuntar a todos para a celebração, pois gostava quando Ele falava somente ao coração dela, em particular. Colocou-se a ouvir bem quietinha e foi aquela pequena conversa de manhã que a sustentou em todas as coisas que decidiu pelo resto do dia.

Saiu daquele diálogo renovada e logo colocou-se de pé, abusou da maquiagem dos cílios e abriu a janela respirando profundamente a brisa gostosa e úmida, vestiu uma roupa leve de verão e abriu os braços para se deixar levar pelo vento que balançava os cabelos dela.

E foi assim que se desenrolou um domingo inteirinho de sorrisos, carros, conversas e muito descanso em família. Não só na família que ela nasceu, mas na família que ela escolheu. E não poderia ter sido melhor pra ela.

sexta-feira, 18 de março de 2011

O céu lilás com nuveninhas de água bem baixas que a envolviam por todos os lados faziam com que o frio se acomodasse nos braços quentinhos que ela possuía e o vento constante de março vinha trazendo aos poucos o outono que chegava cada dia mais perto. Apesar de o outono ser uma das estações que ela mais gostasse, ali naquela hora, sentia frio e desejava que a carona chegasse com o carro quentinho depressa.

A cabeça dela estava bem ocupada com a preocupação se a roupa estava boa o suficiente para um evento daquele tamanho e as significações que isso implicaria, com as palavras duras da mãe que acabou brigando por ser um evento em plena segunda-feira e com tantas outras coisas que, pelo volume, se fundiam.

E  foi assim que no meio de uma tempestade de pensamentos encavalados lembrou-se que a Amigairmãgêmea dessa vez não estava viajando e nesse mundo não há nada como alguém que pensa com a cabeça da gente pra dividir o que quer que seja. Pegou depressa o telefone e digitou o número gêmeo que sabia de cor. Do outro lado do aparelho a sobrinha dos olhos de piscina com a voz mais amável do mundo a recebia com um sorriso de manhã de domingo e ela, de quase afogada em todas aquelas preocupações, nem prestava atenção direito aos detalhes que a sobrinha dos olhos de piscina falava com calma.

Quando enfim a Amigairmãgêmea fez a voz chegar aos ouvidos dela o coração dela se confortava só de poder sentir a voz da Amigairmãgêmea que, com todos os foguetes possíveis dentro dela, falava rápido e agitadamente como ela mesma era agitada. Depois de explicar todas as preocupações do mundo que pesavam sobre o cérebro inquieto dela a Amigairmãgêmea simplesmente enviou algumas palavras para que ela se escorasse e andasse olhando pra frente de novo e com ânimo renovado.

99277140, Mike Kemp /Tetra images

Era extremamente engraçado o fato de mesmo não tendo a mesma idade e não saindo da mesma barriga, apesar de terem saído da mesma cidade, a semelhança gêmea que possuíam. Quem olhasse à primeira vista nunca saberia falar uma semelhança sequer entre as duas, mas um observador que parasse por cerca de cinco minutos a olhar uma conversa entre ela e a Amigairmãgêmea comprovaria que, cada uma com a bagagem que adquirira, tinha os mesmos foguetes dentro, as mesmas incontáveis gafes públicas, as mesmas ideias malucas, a mesma paixão pueril pelas coisas simples, a mesma falta de filtro e de noção para falar o que o cérebro tinha acabado de conceber e tantas outras coisas incontáveis.

Por muitas e muitas vezes, como era o caso daquela noite pré-outono, ela não conseguia fazer com que o coração parasse de discutir com o cérebro e precisava da voz dela mesma para se orientar, mas não podia formular sentença inteligível. Era nessas horas que ela pensava ter um privilégio indescritível de ter o espelho vivo que era a Amigairmãgêmea. Ela podia ver através da Amigairmãgêmea o que ela mesma faria se pudesse pensar um pouco melhor e gostava disso.

Quando desligou o telefone poucos segundos depois, pela falta de paciência da Amigairmãgêmea, que tem um show pirotécnico inteiro dentro dela, já se sentia um pouco mais leve e já podia apreciar a brisa fria que lhe acariciava o rosto como uma coisa boa e não motivo pesado de frio. Saiu então daquela estação de metrô e foi se sentar num espaço onde o Grande Mestre esperava por ela, agora ela podia vê-Lo, saiu correndo para se sentar junto a Ele e ficou extremamente feliz por causa disso.

Um tanto quanto sem jeito se acomodou ao lado Dele e puxou assunto em outras línguas que o Grande Mestre havia ensinado a ela e com a força dessa conversa com o Mestre caminhou quase que a noite inteira, foi bendita ao entrar e ao sair e ainda colecionou mais algumas histórias.

A Amigairmãgêmea, naquela noite, havia feito o papel de Amigamãedetodas a conduzindo para mais perto do Grande Mestre com a pureza e simplicidade que somente as crianças podem carregar.

95727697, Karen Strauss /The Image Bank

terça-feira, 8 de março de 2011

Um instrumento nas mãos Dele

Mesmo antes de entrar no auditório podia ouvir a voz da Amigairmãmaisvelha que cantava a pleno diafragma. Era somente um ensaio ainda, mas já podia tocar o óleo precioso e fininho que saía do grupo inteiro organizado em cima daquele palco que virou altar. Eram muitas vozes que compunham aquele som único e, mesmo sem ver cada rosto ainda ela já se sentia em casa, pois o som era muito familiar e agradável. Sabia que o Grande Mestre estava por ali e só isso pra ela já era mais do que suficiente. Ela podia sentir a presença Dele.
Como não podia se juntar aquele aglomerado de adoradores no altar resolveu se sentar e conversar com o Grande Mestre que coletava cada notinha produzida ali. Todo o som induzia a isso. A presença Dele era tão palpável que deu vontade de conversar muito mais do que ela mesma conseguia. Ela se sentou bem ao lado do Mestre e se pôs a conversar com Ele que ouvia calma e amorosamente tanto a melodia quanto o que ela falava.
Com toda a atenção possível ao que o Grande Mestre dizia, ela involuntariamente começou a observar que o Mestre usava a boca da Amigairmãmaisvelha pra falar com o coração dela. E não era nem tanto a letra da música ou mesmo a agradável melodia, mas o Grande Mestre a transportou para um dia quente e úmido de verão em que ela aprendia a ser irmã mais nova bem sentadinha numa praça de alimentação bem barulhenta.
Naquela tarde, como se fosse a primeira lição de irmandade, a Amigairmãmaisvelha exortava com firmeza a respeito de presentes que o Grande Mestre havia distribuído exatamente nas mãozinhas dela. Ela, receosa que era de carregar tamanho dom, com o coração ainda em recuperação de experiências passadas não aceitava muito bem aquele presente como sendo pra uso coletivo e em público e sim só pra ela brincar e em espaço reservado.
A Amigairmãmaisvelha indignada de ela guardar aquele instrumento em casa dizia ainda com mais firmeza do que de costume: Nina!!! Você não pode guardar isso só pra você!! Você vai fazer essas cordas mofarem!!!! E ela determinada retrucava: Mas eu não quero voltar a cantar!!! Já disse que faço qualquer outra coisa, mas cantar eu não quero!!!!! Foi então que, mais indignada ainda e, nutrida de grande autoridade dada pelo Grande Mestre a Amigairmãmaisvelha abriu mais ainda os olhos que já eram enormes, fez uma careta de boca retorcida e soltou uma frase muito séria, mas que no contexto todo soou até engraçada pela careta: E quem foi que te chamou pra cantar Nina??? Ninguém te chamou pra cantar! O Grande Mestre te chamou para uma coisa muito diferente. Ele te chamou para adorar e uma coisa não tem nada haver com a outra.

86070146, MacGregor & Gordon /Workbook Stock


Naquela hora o lugar extremamente barulhento parece que se calou pra ouvir a voz de autoridade da Amigairmãmaisvelha que tinha toda razão do mundo. Se o ambiente não tivesse se calado certamente o cérebro dela se calou para ouvir a voz da Amigairmãmaisvelha que continuava: Nina!!! Cantar todo mundo canta. Qualquer pessoa pode pegar um microfone e fazer proezas com o mínimo de esforço ou até mesmo sem esforço nenhum, mas o Grande Mestre te chamou pra fazer algo extremamente diferente e muito mais difícil.
A Amigairmãmaisvelha dava uma paradinha de vez em quando para que desse tempo de a razão dela assimilar todas aquelas coisas, mas percebendo a carinha de interrogação que se formara nela a Amigairmãmaisvelha continuava com voz mais suave e muita gesticulação: o Grande Mestre te chamou para ser adoradora e sabe o que você tem que fazer? Você tem que abrir sua boca e deixar que Ele mesmo toque esse instrumento de cordas que Ele colocou na sua garganta antes da fundação do mundo. O Grande Mestre quer que você se entregue a Ele de tal forma que Ele mesmo toque a música que quiser no instrumento vocal que Ele te deu. E dali em diante ela não teve mais coragem e nem argumento pra dizer mais nada e ficou somente escutando a Amigairmãmaisvelha ensinando pra ela como era ser irmã mais nova.
E naquela noite de festa em que conversava com o Grande Mestre sentadinha no banco acolchoado percebeu que a Amigairmãmaisvelha, naquela tarde já passada há tempos, sabia exatamente o que dizia. Ela percebeu que a única coisa que a Amigairmãmaisvelha fazia naquele palco que virou altar era abrir a boca como havia dito que ela mesma fizesse. E não conseguia mais fechar.
A Amigairmãmaisvelha, que era dona de uma voz de boa dádiva e de dom muito perfeito, mostrou pra ela naquela noite que nada adianta ter uma voz bonita, e saber cantar. O que realmente contava, como a Amigirmãmaisvelha mesmo já havia dito, era a habilidade do Mestre em tocar aqueles instrumentos conforme cada pessoa fosse permitindo. E se Ele não tocasse com as mãos Dele o instrumento ficava como que desafinado e oco, vazio de som.
Olhando fixamente pra Amigairmãmaisvelha ela se lembrava de cada palavrinha que o instrumento de cordas na garganta da Amigairmãmaisvelha produzia naquela tarde já distante: Nina... no final das contas, se não tiver essa unção que desce do trono da graça do Mestre, que Ele mesmo coloca, nada vale a pena. E pensava naquilo tudo que a Amigairmãmaisvelha falava e entendia a cada notinha produzida no altar que aquela autoridade toda vinha do conhecimento que a Amigairmãmaisvelha já tinha. E já vivia aquelas palavras havia muito tempo. De certa forma era essa a receita de sucesso que Amigaairmãmaisvelha tentava passar a ela naquela tarde quente e úmida passada. E que sucesso diga-se de passagem.
Foi então que em um leve toque o Grande Mestre a tirou daqueles pensamentos todos em que tinha se enveredado, lançou a ela um sorrisinho cativante e ela sorrindo em retribuição abriu vagarosamente a boca para que Ele mesmo tocasse também o instrumento de cordas que havia colocado na garganta dela como a Amigairmãmaisvelha tinha ensinado.
O Grande Mestre estendeu então a mãozona Dele e colocou no instrumento de cordas da garganta dela um cântico novo e ela O adorou com toda a intensidade do serzinho que ela era. Depois disso não conseguia parar nunca mais e entendeu o que se passava com a Amigairmãmaisvelha que não conseguia parar e se deixou levar pelo toque do Grande Mestre virando apenas um instrumento usado nas Grandes Mãos poderosas Dele. Tinha assim descobrido o presente de ser um instrumento simplesmente tocada por Ele.


93908980, Ariel Skelley /Blend Images

segunda-feira, 7 de março de 2011

Linguagens e idiomas

Desde pequena admirava muito todos os sons emitidos com a finalidade de se comunicar. Ouvir outros idiomas e tentar entendê-los era um prazer e até um passatempo nos tempos de menina. A mãe, percebendo o gosto dela em ouvir outra línguas, mais do que depressa mariculou-a em um curso de inglês para que pudesse entender com consciência o que estava falando e ela aproveitou como pôde cada uma das aulas.

Mais tarde queria ter noção de todas as línguas da face da terra e descobriu na enorme estante do avô um dicionário que continha não apenas um, mas cinco idiomas diferentes. Pegou papel, caneta, um texto curto que tinha gostado muito de ler no vício de leitura contínua na língua materna e pôs-se a traduzir nos cinco idiomas aquele pequeno papelzinho que agora já eram cinco. Como o texto não fazia muito sentido sendo traduzido palavra por palavra se cansou de descobrir termos soltos que não faziam sentido na mesma frase e largou tudo isso pra lá.

Mas o fascínio por vernáculos alheios nunca a abandonou. Até mesmo a diferença sonora de sotaque que havia da terra que a viu nascer pra terra que a acolheu de braços abertos merecia atenção no modo de acentuar as palavras e muitas vezes de interpretá-las. Essa mistura regional que o enorme país natal proporcionava era muito empolgante pra ela e vez por outra se pegava repetindo palavras recém saídas da boca das amigas. Certa vez a Amigairmãmaisvelha prometeu colecionar todos os termos mais diferentes que ela costumava usar e que só os mineiros dominam com sucesso de tanto que ela repetia termos e expressões que a Amigairmãmaisvelha, paulista que era, estava acostumada a usar.

Todo esse fascínio linguístico foi o maior motivo de ela estar ali parada com a boca fechada e ouvidos abertos para ouvir todos aqueles sons que saíam da boca da Amigamãedetodas enquanto o Grande Mestre falava. Ela não tinha conhecimento do significado daquelas palavras apesar de poder claramente ouví-las. A língua que a Amigamãedetodas falava sem parar é a dos anjos e o Grande Mestre só ensina a gramática àqueles que são chamados para este propósito ou ainda para serem mini mestres e ensinar a outros como é o vocabulário celestial. Mas mesmo sem nada entender e sabendo que não conseguiria mesmo interpretar aquelas palavras que a Amigamãedetodas falava ela continuou prestando atenção, pois só de o Grande Mestre falar qualquer coisa que fosse já era motivo de se prestar atenção. Mesmo que não houvesse entendimento intelectual e racional menos ainda.

Enquanto a Amigamãedetodas se empolgava na conversa com o Mestre Ele estendeu as mãos e foi ensinando outros idiomas que ela já tinha ouvido antes e através dessa conversa foi confirmando no coração dela, que estava de espectadora encantada, várias coisas que só o Grande Mestre pode fazer.

Ele disse a ela em inglês que Ele fala mesmo, que não é um Mestre mudo e provou estar á frente de toda situação falando em italiano que era Ele mesmo quem fazia todas aquelas coisas. Em princípio ela quase não acreditou quando ouviu aquelas palavras pois sabia do domínio natural que a Amigamãedetodas tinha sobre a língua pátria das duas que era o português, mas sabia também que a Amigamãedetodas não dominava nenhum outro idioma terrestre. Mas mesmo assim se encantou com aquilo. Foi nessa hora que o Grande Mestre bradou em alta voz que era Ele o Senhor de todas as línguas e o coração dela se encheu de temor a Ele.

Foi então que de um salto a Amigamãedetodas pegou nas mãos dela e começou a cantar em línguas misturadas muitas e muitas coisas que o Mestre mandara, mas como estava a maioria em inglês a velocidade da pronúncia só a permitiu de entender o nome de uma cidade do mapa longínquo que conhecia tão bem e agradeceu ao Grande Mestre por poder participar daquela conferência idiomática se sentindo muito feliz por poder ver muitas coisas novas linguísticamente falando.

Aquela cena sonora ficou batendo e rebatendo na cabecinha dela por tempos e tempos e ela, fascinada que ficara, admirava mais e mais o Mestre que tinha todo poder nas mãos, inclusive do domínio dos idiomas. E agora ali, sentada sozinha com o queixo apoiado pela mão ela pensava longamente sobre todas essas coisas ainda agradecendo ao Grande Mestre por Ele ser o Senhor das línguas e pedindo que ela mesma fosse fluente na Palavra da verdade que Ele anunciara aos filhos da Promessa e o Consolador ensinava a ela dia após dia.

Diante de tal pedido de expansão de vocabulário resolveu arriscar a falar coraçõnês e dizer para o Grande Mestre que O amava MUITO. Como o som saiu ainda com certa estranheza pela falta de domínio ela começou a rir do próprio desajeito e o Mestre que a olhava com olhar carinhoso retribuiu o sorriso mostrando a ela nas marcas das próprias mãos o quanto Ele a amou primeiro. Ela entendendo o que o Mestre dissera beijou suavemente o rosto Dele agradecida pela misericórdia que era disponibilizada a cada manhã por Ele, sendo o Senhor supremos das línguas, falar uma língua que ela entendesse tão bem: a linguagem do amor Dele.

93909947, Brigitte Sporrer /Cultura

sábado, 5 de março de 2011

O semeador saiu a semear

Já havia bastante tempo que o Grande Mestre vinha preparando muitas sementes para o jardim fechado que fazia dentro dela. O novo hobby do Grande Mestre exigia tempo e trabalho muitas vezes árduo, mas Ele permanecia fiel àquela obra e parecia se deliciar a cada plantinha que saía daquela terrinha adubada e cuidada com carinho por Ele.

Foi só naquela tarde chuvosa na casa de oração da Amigamãedetodas que ela entendeu que a despedida das duas melhores amigas de tempos antigos da vida dela era, na verdade, uma varredura para o plantio de virtudes ainda não conhecidas. Ao longo da vida toda as amigas, que estavam se despedindo para melhores oportunidades de convivência, foram plantadas em tempos de guerra e por muito tempo foram a família com quem ela escolhera estar e dividir as gargalhadas que podiam. Durante muito e muito tempo aquele tripé a mantinha viva, mesmo que não fosse de pé. E, pra ela, isso era apenas suficiente.

Desde o dia em que ela tinha se decidido a dar as duas mãos para o Mestre que a conduzia Ele foi desembaçando os olhos dela e foi questão somente de tempo para o suficiente se tornar desnecessário e por fim pesado. E foi nessa época que começou a ver que as sementes que originaram aquelas amizades, apesar de serem plantadas com toda boa intenção existente eram, na verdade, joio plantado tão pertinho do trigo que era quase que imperceptível o que era um e outro.

200444546-001, Elena Segatini /The Image Bank

E era exatamente isso que o Grande Mestre vinha fazendo naquela semana. Ele arrancava cada pedacinho de joio amadurecido e os colocava no mar do esquecimento. Limpava cada centímetrozinho daquela terra que era propriedade particular Dele. Revirava toda terra, arrancava raízes de mato que tiravam a beleza das flores e desenhava o acabamento daquele jardim em fase de reforma.

Ela sentia algumas mudanças por fora, mas sabia que era o Grande Mestre que estava mexendo e isso bastava pra ela que tinha esperança e aguardava em silêncio. E mais do que isso, confiava nas mãos Dele pra tudo, inclusive como jardineiro.

Além do mais ela sentia falta demais daquelas tardes em que se assentavam e brincavam no jardim como se fossem crianças e pediu que o Mestre então plantasse algo novo para que pudessem compartilhar daquele momento em que Ele a ensinava a ser terra boa. E ela, como boa aprendiz, mesmo sem dizer nada, absorta nos olhos Dele, se esforçava por aprender cada coisinha daquelas com o prazer de simplesmente estar perto Dele.

Foi relembrando dessas tardes gostosas de primavera espiritual que pediu a Ele para ver o que Ele tanto fazia ali, pois queria participar também desse processo única e exclusivamente para ficar perto Dele. O Grande Mestre, que tem ouvidos mais apurados do que os de músico ouviu e preparou um caminho todo florido para que ela pudesse ver o que Ele estava fazendo.

Como ela estava esperando quietinha e nem se mexia a Amigamãedetodas colocou-a pra andar começando a falar de todas as coisas de fé que existiam e da forma como o Mestre manuseava os instrumentos de jardineiro no coração da gente. Ela parou ali sentada aos pés da Amigamãedetodas e absorvia como uma esponjinha cada detalhe da forma como Ele trabalha e queria mesmo era aprender como a Amigamãedetodas, que sabia de tantas coisas.

Os casos contados transformaram-se em casos cantados, pois não era mais possível falar aquelas coisas, obras das mãos Dele, sem lavar o rosto de lágrimas e cantando era sempre mais fácil de o agradecimento sair de dentro da gente. E cantando as grandes obras das mãos do Mestre, sem saber e sentir, a Amigamãedetodas a tomou pela mão e a foi conduzindo em canção por uma estrada que era tão nova pra ela que ela nem prestava atenção no que era dito e sim no caminho.

83310828, Gallo Images-David Malan /Photodisc

E passaram por vários pontos que despertaram o interesse dela naquela estradinha regada de óleo e ela, que segurava a mão da Amigamãedetodas pôde aproveitar e olhar para o caminho que estava trilhando sem se preocupar onde estava pisando. Ela viu que a Amigamãedetodas parou numa estação de idiomas e o Grande Mestre colocou na boca da Amigamãedetodas várias línguas daquelas. Cada uma tinha uma cor e quando colocadas na boca da Amigamãedetodas cada uma tomava uma forma e saía em forma de encorajamento e confiança, coisas do Grande Mestre... Nessa estação ela entendeu que Ele era o Senhor soberano das línguas e aprendeu um pouco mais da língua dos anjos, pois não poderia aprender tal coisa em nenhum outro lugar.

Retomaram o passo e assim que saíram da estação das línguas, ela que já tinha uma nova língua como canção, não conseguia mais prestar tanta atenção no caminho como antes. De olhinhos bem fechados ela aproveitou a certeza de não tropeçar por estar segura nas mãos da Amigamãedetodas, que estava nos braços do Grande Mestre e se deixou carregar pela canção que saía cada vez mais alta.

3536-000037, Southern Stock /Photonica

Enquanto isso o Mestre esperava que ela soltasse uma notinha musical que Ele mesmo colocou dentro dela para que Ele tomasse por completo o controle do caminho dela. Ela mesma não tinha segurança em soltar a pobre notinha e achou melhor deixá-la lá dentro confortável e protegida no calor do coraçãozinho que era um ótimo anfitrião.

A notinha porém não queria de forma alguma ficar naquele lugar mesmo que estivesse agradável e começou a pular e ficar inquieta dentro dela buscando um pouco de ar fresco. E ela foi ficando incomodada demais com aquela notinha agitada querendo sair até que finalmente, se debatendo no estômago, a notinha pulou pra fora e saiu irrompendo numa música velhinha, que foi suficiente para levar todo medo e receio junto com a notinha que se desfazia nas mãos do Mestre, de encontro ao ar.

108442779, Moment /Cultura

O Grande Mestre que assistia tudo colocou as mãos no ombro da Amigamãedetodas e disse: - Está vendo? Olha lá em cima o medo que saiu dali, pode ver? Eu mesmo vou pegá-lo, agora já está em mim, vai lá e mostra pra ela as flores que Eu estou plantando aqui nesse jardim. E a Amigamãedetodas levantou-se e foi. E segurando as mãos dela lembrou-a que ela tinha uma arara para cuidar e planos a executar independentemente do que acontecesse.

Enquanto isso a Amigairmãsensata ungia as asas que o Mestre estava dando para que ela pudesse ver as coisas do alto e ela já se aprumou em posição de voo de águia para ter postura de quem vê as coisas do alto. E vive as coisas do alto. E ama mais que tudo as coisas do alto.

O Mestre colocou então a Amigairmãmaisvelha para cobrir aquela sala com louvores à direita e colocou o menino dos dedos de teclas para fazer uma barreira intransponível à esquerda colocando todos eles no esconderijo do Altíssimo, debaixo das asas poderosas do Grande Mestre onipotente. Todos os presentes naquela reunião de fim de tarde se sentiram bem seguros e guardados por um poder nunca antes tocável.

Ela se sentia por todos os lados abençoada e levantou-se daquele sofá como se pudesse enfrentar um batalhão, afinal de contas, bem guardada desse jeito temer porquê? Calçou os sapatos que havia tirado para aumentar a sensibilidade dos pés e se sentiu renovada, como se o Mestre soubesse que ela precisava daquele alimento para continuar se locomovendo e existindo.

Na verdade ela sabia que Ele conhece todas as necessidades dela, mas no final das contas o Grande Mestre era também um pai fiel e surpreendente que cuidava dela com amor e zelo. Naquela noite mesmo com o frio que os paulistanos sentiam o fogo do Espírito queimava tão forte dentro dela que todo agasalho oferecido foi recusado em troca de um abraço aquecedor que ela passava a conhecer bem.

88093337, Tripod /Taxi

sexta-feira, 4 de março de 2011

Ela mal podia aceditar na complexidade das coisas que aconteceram naquele mês chamado Férias. Uma revolução espiritual havia se instalado na atmosfera ao redor dela e ela achava tudo aquilo perfeito. Só de ser alimentada todos os dias com uma palavra fresquinha, novinha em folha vinda direto do trono da graça do Grande e amoroso Mestre já era fantástico por si só.

Naquelas tardes que viravam noites após todo o trabalho que tinha que fazer e pilhas de informações pra ler que a vida dela tinha novamente virado com o início das aulas ela se pegava a pensar naquelas doces lembranças querendo tocá-las novamente. Ali mesmo, sentava no mini sofá do lounge com pseudo preguiça de subir o restante da escada ela saboreava cada detalhe que podia se lembrar daquele tempo como que se revivesse.

Foi inevitável alguma coisa ou outra lhe escaparem, mas de todas as lembranças ela se apegou àquela que mais a fazia pensar nas coisas que ainda estão por vir.

Certo dia o Grande Mestre a tomou pela mão em sonhos e a levou novamente na casa em que morou por longos anos dividindo todas as coisas com o avô que lhe ensinou a contar histórias de toda espécie. Foi por causa da falta que se instalara no meio do coração dela de todos os casos que o avô contava que um dia ela começou a escrever pra ela mesma. E ela gostava daquelas historinhas que criara a partir de coisas que já existiam.

E foi assim, com saudade do avô, que naquela noite em que repousava nos braços do Grande Mestre foi levada mais uma vez à casinha que conhecera quando era pequena e viu uma ararinha empalhada que não tinha vida dentro.  Ela, que não gostava de tocar em pássaros por causa do corpinho frágil que tinham, mas naquele sonho colocou-se a acariciar a ararinha vermelha de tão linda que era aquela plumagem de cores que ela gostava tanto.

102411953, Darrell Gulin /Photographer's Choice

De tanto ser acariciado o bichinho foi ganhando vida e quando ela tentou se afastar ele rolou pro lado dela como se não quisesse sair de perto. Um pouco assustada porque a ararinha empalhada estava se mexendo ela continuou a passar a mão no pássaro e aos poucos a vida que o Grande Mestre colocou nela foi passando das mãos dela para o corpinho da ave, que ensaiava umas respiradinhas.

E ela, que não sabia bem o que fazer foi passando a mão na ave com pena da pobrezinha e foi colocando calor nos ventrículos da ararinha que já conseguia respirar e ensaiava um sonzinho. Sem sair nenhum minuto de perto das mãos dela a ararinha arriscou um pequeno voo, mas correu direto pra cruz, pra perto do Grande Mestre representado pelo avô, que sorriu e recebeu a avezinha como que a abençoando.

3312-000215, Dan Holmberg /Photonica

E ela, olhando aquilo tudo voltava a sonhar tendo a certeza de que se ela acariciasse aqueles sonhos plantados há tanto tempo no coração dela, e outrora destruídos por lama e perdição pecadora, eles poderiam abrir os olhinhos novamente e a vida poderia tomar conta do interior deles.

Colocou-se prontamente a acariciar todos os sonhos que queria muito e podia se lembrar naquele momento recém acordada, pois o Grande Mestre havia começado uma obra e era fiel e justo para terminá-la e fazer todo o acabamento.

Reuniu aqueles projetos nas mãos e apresentou-os para o Grande Arquiteto do mundo, que era capaz de construir e ressucitar qualquer projeto. O pedido dela naquela manhã era que fossem alinhados os projetos dela com os projetos do Grande Mestre, pois Ele era perfeito e poderia apontar qualquer imperfeição que por ventura houvesse.

O Grande Mestre pegou todos aqueles papéis velhos e meio amassados e em questão de segundos limpou, alinhou, desmanchou e fez tudo novo. Agora o papel novinho e já havia sofisticação no design. Ele é mesmo muito perfeito - pensou olhando para a obra. Ficou feliz por poder ter um projeto daquele tamanho nas mãos e se encheu de esperança por poder participar daquilo tudo.

Olhando pra todo aquele mateiral reunído nas mãozinhas dela e analisando os detalhes o olho disse pro coração: olha o tamanho disso!!! e o coraçãozinho receoso logo pensou que não era possível executar obra daquela magnitude com o que ela tinha disponível de material.

dv380117, Photodisc /Photodisc


Foi então que o Grande Mestre olhou para o coraçãozinho sabendo exatamente o que o pequenino estava pensando e passou a mão na cabeça do coraçãozinho dizendo: Por que você está tão abatido pensando nessas coisas? Sou Eu que te fortaleço. Esqueceu que pode todas as coisas quando estou junto? Inclusive se contrair. Não fique ansioso por coisa alguma! O pequeno coração esfuziante por ouvir a voz calma e suave do Mestre logo ficou em paz e retomou a serenidade que lhe era devida.

E o Grande Mestre, com uma expressão de sorriso de paz olhou pros olhinhos dela e disse: - Tome muito cuidado com esses planos e projetos. Não se precipite porque Estou trabalhando na sua ansiedade. Quando o coração estiver prestes a se desesperar lembre-se que Sou Eu quem cuido de tudo.

E ela, com um pouco de vergonha pelo coração que queria tudo ao mesmo tempo e agora, retribuiu o sorriso amável e entendeu que deveria somente descansar como uma criança dorme nos braços do Pai. E foi nessa hora que decidiu que bom mesmo era ter esperança e aguardar em silêncio a salvação do Mestre.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Ela mal podia acreditar no que os olhinhos dela contemplavam naquela noite de chuva intensa e, sentada com todas aquela pérolas nas mãos, ela agradecia infinitamente ao Grande Mestre Criador que colocara dentro dela um jardim que ainda estava em construção mas até pérola já produzia.

E olhando fixamente nas perolazinhas que o Grande Mestre havia dado a ela era possível perceber que algumas haviam mudado de cor, outras haviam dado cria, algumas estavam brilhando um pouco mais, mas todas aquelas pérolas tiveram igualmente seu brilho acentuado depois que ela passou a dividí-las. Como aquelas perolazinhas haviam se multiplicado tanto... E depressa!!!!

90042501, Gentl and Hyers /Botanica

Anteriormente, quando guardava todas pra ficar olhando sozinha ela já as apreciava, mas agora, agora era diferente. Ela finalmente percebeu que apesar de serem ainda um pouco irregulares e precisarem de certa lapidação tinham a função de alimentar outros e desde que a Amigairmãmaisvelha brigou e teimou para que ela deixasse disponível aquele tesouro ao público e que ela se deixasse levar pelas mãos do Grande Mestre que a ensinava um novo ofício, ela passou a se deixar ensinar mais um pouco e a se dar mais um pouco, a não ter vergonha de compartilhar e de dividir o que tinha de mais precioso, o dom que Ele mesmo havia dado.

Quando recebeu todas aquelas preciosidades nas mãos não eram ainda brilhantes assim porque a ostra que ela era ainda não tinha nada por dentro que pudesse ser aproveitado e as pérolas que produzia eram foscas, não tinham brilho assim como as atuais que segurava. Era nítida a diferença entre as primeiras que fez por si só e as últimas fabricadas com a orientação do Grande Mestre.

Ele havia colocado um brilho ofuscante dentro dela que produziu não só pérolas mais bonitas e consistentes, mas que eram de uma espécie rara que servia para alimento e edificação como ela mesma provara.

Parece que os irmãos mais velhos sempre vêem um pouco além do que a nossa vista dá conta e falam de coisas que ainda não são como se já fossem. E assim numa tarde de chuva que as terras paulistanas guardam todos os dias para lavar seus moradores a Amigairmãmaisvelha discorria longamente sobre como era um desperdício que ficasse aquele monte de pérolas lacradas envelhecendo sem ninguém nunca ter contemplado, se beneficiado e se alimentado delas.

Em princípio ela não achou muito boa a ideia porque gostava daquelas coisas só pra ela e mesmo sendo uma coisa boa ainda tinha certa vergonha da exposição do que ela havia produzido, mas quando a poeira das palavras da Amigairmãmaisvelha abaixou todo aquele texto proferido em forma de exortação ficou vagueando pela cabecinha dela sem querer repousar ou mesmo cair nas águas do esquecimento. Apoiada então naquelas palavras de encorajamento, ela resolveu pelo menos tentar e saiu distribuindo perolazinhas filhas nas mãos de várias pessoas que não se importariam em olhar discretamente e dar algum parecer favorável nem que fosse por consideração.

Essas pessoas que ela conhecia, mesmo sem falar nada, gostavam tanto que distribuíram para outras pessoas que ela não conhecia, que passaram para outras pessoas diferentes até que ela não podia mensurar mais onde havia chegado aquelas pedrinhas reluzentes de ostra que o Grande Mestre trouxe e colocou nas mãos dela. E parecia que quanto mais ela dividia mais lindas elas ficavam.

Não sabendo porém que aqueles glóbulos calcários que se formavam dentro das conchas podiam mesmo saciar fome de alma quando feitas pelo Grande Mestre através das mãos dela, ela foi tomada pela surpresa ao ver que uma das pedrinhas que caíra nas mãos de uma amiga que tinha os cabelos cor de fogo tinha voltado para as mãos do Mestre e não voltara vazia. Voltou em forma de agradecimento.

200553470-001, Sylvester Adams /Photodisc

Era difícil pra ela, que sabia por onde passara anteriormente, acreditar que aquelas pérolas tinham o poder de, pelo menos, fazer refletir. O que ela desejava mesmo daquelas areinhas transformadas em jóias é que tivessem o poder de atrair aquelas pessoas que as contemplavam ao Grande Mestre com cordas de amor como só Ele fazia saber. Isso pra ela era muito mais possível do que o que estava acontecendo agora mesmo, que era que as pessoas gostassem e se alimentassem dessas iguarias. Afinal o Grande Mestre é a única pessoa em todo universo que consegue atrair com cordas de amor qualquer pessoa, e como era Ele mesmo que produzira cada uma daquelas pérolas, pessoas atraídas por laços de amor seria somente consequência do que já era planejado desde a criação do mundo quando a terra era sem forma e vazia.

E ali ela ficou por muito e muito tempo olhando para o rosto do Mestre e imaginando todo o caminho que trilhara e as alegrias e dificuldades do percurso até formar pérola boa e agradável que ainda não era perfeita, mas agora estava muito agradecida com o resultado da inflamação que dá pra que a areia intrusa se torne objeto valioso. Afinal, quem garante que a pequena ostrinha lá no fundo do mar também não sofreu com a irritação da areia para que virasse uma pérola tão linda e brilhante?

200527256-001, George Diebold /The Image Bank