domingo, 27 de fevereiro de 2011

Com o turbilhão que o fim das férias escolares traziam o tempo escorria pelos dedos dela sem dar tempo de, pelo menos, varrer as folhas do calendário que passavam por ela sem parar. Nessas épocas o trânsito piorava, o metrô enchia mais, a casa que habitava não a via e nem mesmo podia desfrutar da compania dos pais como antes.

No meio de toda essa correria e de muitas vozes chamando o nome dela incessantemente era inevitável que fizesse algumas coisas e abandonasse outras que gostava muito. A intensificação da rotina trouxe um copinho a mais de cansaço pra ela beber e vinha tendo mais sono do que normalmente já tinha. Estava feliz apesar de tudo porque o Grande Mestre a ajudava com todas essas coisas e carregava uma boa parte do cansaço dela pra Ele.

Com tudo isso acontecendo ao mesmo tempo agora ela se esqueceu como era boa e de qualidade refinada a compania da Amigamãedetodas, que não encontrava há tanto tempo e agora ela se deliciava com a amiga do outro lado do fio do telefone. Nos tempos em que a aula não a chamava, em que não havia trabalhos a entregar e nem relatórios escolares a se preencher era muito mais fácil aproveitar a compania daquela amiguinha que era tão preciosa pra ela. Era até difícil de colocar em palavras tudo que aprendera com a Amigamãedetodas e aproveitava para aprender ainda mais.

Não havia motivo específico para conversarem. Aproveitavam ao máximo para rir até a barriga doer. Isso era muito fácil com a Amigamãedetodas, que ria com força de todas as coisas engraçadas que elas mesmas produziam. E não conseguiam para de rir nunca até perder o fôlego e criarem mais alguma coisa engraçada demais para rir baixo.

Pra ela era tão fácil identificar na vida da Amigamãedetodas a voz potente do Grande Mestre mesmo que fosse em meio a brincadeiras que ficava sempre atenta ao menor sinal possível. O respeito pelas coisas que a Amigamãedetodas falava era tamanho que ela não ousava nem contar todas as coisas que tinham acontecido na vida dela como fazia às vezes com a Amigairmãmaisvelha. Ela sabia que conversa entre irmãos era diferente e pensava que seria bom pra Amigamãedetodas ser poupada dessas aventuras que o Grande Mestre não participava.

Quando elas conversavam ali naquela noite estrelada e risonha era como se o Grande Mestre colocasse uma lanterna bem potente na mão da Amigamãedetodas, que a segurava firme e ia andando pelos assuntos sobre os quais conversavam e ia iluminando pontos que ela ainda não tinha visto com tamanha clareza e luminosidade mudando a opinião dela sobre muitas coisas sobre as quais não tinha pensado daquela forma. As palavras saíam da boca da Amigamãedetodas com a simplicidade da criança que todos têm que se tornar para entrar na casa do Grande Mestre e entender o que Ele realmente quer dizer e iam se fincando na terrinha tratada do coraçãozinho dela.

E ela, com todo brilhinho que podia reunir nos olhos ficava ali sentada aos pés daquela porta-voz do Grande Mestre que a Amigamãedetodas se tornara e aproveitada cada palavrinha daquela sabedoria que foi colocada pelo Grande Mestre no coraçãozinho da Amigamãedetodas que falava sem parar.

Assim foi se passando o tempo e as voltas do relógio se acelerando até que se deu conta que já era quase dia seguinte e teria que encerrar o papo gostoso que era produzido pelas duas. Com pesar de ter que desligar o aparelhinho que esquentava a orelha dela se despediu da voz agradável da Amigamãedetodas e com o coraçãozinho pulante de felicidade por tantas coisas boas que o Grande Mestre vinha fazendo na vida de ambas ela se entregou aos braços da cama que a acolheu sem sequer pestanejar.

98213111, Dalla / Salbjörg Rita Jónsdóttir /Flickr

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