sexta-feira, 6 de maio de 2011

Mães de joelhos, filhos de pé

Toda essa coisa de ser mãe espiritual era ao mesmo tempo muito novo e muito diferente pra ela. Era estranho olhar para as pessoas quase da idade dela ou até mais velhas e ter que vê-las como embriões ainda.

Nesses dias ela vinha aprendendo a força que possuía uma conversa sincera com o Grande Mestre, que havia feito dela uma criatura justa. E ela se assentava aos pés do Mestre sedenta por ouvir a voz Dele e qualquer movimento que ele pudesse fazer. E ainda sem ser totalmente treinada nesse negócio de pedir ao Mestre em favor de outros se colocava a falar sem parar em favor das filhas que o próprio Mestre colocava nas mãos dela para cuidar.

56778262, MedicalRF.com /MedicalRF.com

Cada uma das filhas era ainda embrião de servas salvas, mas ela olhava e podia ver em cada ultrassom, em cada rostinho, a mulher que o Grande Mestre queria formar em cada feto que o útero espiritual dela abrigava.

E ela, assentada naquele auditório, ouvia atentamente e trocava experiências e histórias com outras mães que falavam longamente com o Mestre a respeito dos filhos e ficava feliz por ver que estava se saindo relativamente bem visto que era apenas uma grávida espiritual de trigêmeas. E ainda de primeira viagem.

Aquelas mães veteranas que já tinham filhos como que constelações, de tantos que eram, falavam sobre as expectativas, sobre os anseios, sobre as dores lancinantes do parto e sobre a forma como a alegria que podia dissipar toda dor que as contrações da parturição causavam tomava a forma de anestésico quando viam a carinha daquele bebezinho ainda todo sujo de útero.

Atenta a todas aquelas dicas e como que absorvendo cada detalhe para que pudesse cuidar melhor das filhas, do desenvolvimento de cada uma delas, ela entendia que quem faz tudo, desde a concepção até o milagre do nascimento é o Grande Mestre e Ele fazia como melhor O aprazia. E ela, sentada ali naquela reunião de mães de todas as idades, aprendia que por maior que o amor de mãe seja não existe amor maior do que o do Grande Mestre, porém mãe também ama e esses dois amores, apesar de terem o mesmo nome, são coisas extremamente diferentes.

Enquanto as mães querem criar os filhos pra elas somente e cuidar dos filhos pra sempre, o Grande Mestre queria um desenvolvimento consistente, um nascimento saudável e um crescimento sarado para que pudessem gerar outros filhos, pois quem ganha filhos é sábio.

88190318, altrendo images /Altrendo

Mesmo com o coração meio apertado de saber essas coisas os olhinhos dela brilhavam com a perspectiva de ver as filhas, que ainda eram embriões, gerar outros filhos e dar a ela muitos e muitos netos. Ela sabia, porém que havia ainda muito trabalho, muitas lágrimas e ainda muita e muita conversa aos pés do Grande Mestre Conselheiro para que ela pudesse ver as carinhas das meninas salvas.

Ouvindo os conselhos daquelas mães veteranas, mesmo que não direcionados especificamente a ela, que diziam que aos pés do Grande Mestre era preciso gastar no mínimo quinze minutos por dia e que com o passar do tempo de conversa isso seria muito pouco, ela olhou pro rosto do Grande Mestre e perguntou qual seria o próximo passo para a nutrição daqueles embriõezinhos, pois sabia que ainda não comiam comida como ela, teriam que se alimentar de alimento diferente.

200297210-001, Renaud Visage /Digital Vision

O Mestre, todo amoroso, devolveu a ela o olhar de pai que só Ele sabia fazer e a instruiu que zelasse pelas companhias das pequenas para que o joio não sufocasse aqueles brotinhos preguiçosos de trigo que estavam por crescer.  Ela sabia que as más companhias corrompem os bons costumes e ela não queria que aquela sementinha plantada e regada com tanto amor e carinho se transformasse em semente de abrolhos espinhosos.

Ela, de um pulo só, colocou-se de pé, reuniu algumas lembranças nos braços e toda empolgada começou a listar para o Grande Mestre todos os talinhos podres que precisavam ser podados como se Ele mesmo não soubesse. E mais uma vez, como em todas as outras, ela saía dali mais do que feliz com um sorriso indescritível estampado no rosto por causa da infinita fidelidade que Ele tinha para com ela.

108475270, Chris Stein /The Image Bank

Nenhum comentário:

Postar um comentário