domingo, 13 de fevereiro de 2011

E ele nem precisa se trocar na cabine telefônica

Parece que havia tanto e tanto tempo que não se sentava para desfrutar da agradável compania dos pais. Toda a família tinha o hábito de, semanalmente, se sentarem para apreciar variados tipos do precioso laticínio produto do leite. Como bons mineiros que eram toda sorte de queijos era pouco pelo tanto que se deliciavam da iguaria vinda seja da fazenda mineira, seja dos campos franceses.

O queijo era o tipo de comida peculiar dos mineiros e era quase que inseparável um do outro: o mineiro e o queijo. E se aproveitando da ilustre presença queijífera ela e os pais conversavam calmamente ao redor daquela mesa que parecia ficar pequena para tanta palavra que era colocada em cima e tomava conta do lugar.

Era assim em Minas, ao redor da mesa era que se davam as discussões significativas, os tratamentos de algum problema de temporada, as comemorações de vitórias, os choros por qualquer motivo que poderiam ser partilhados e assim aprenderam a apreciar aqueles momentos ao redor do móvel que parecia atrair coisas boas e momentos agradáveis para perto de si.

E foi ali, sentados ao redor da mesa que se pôs a ouvir os detalhes do dia-a-dia do pai que mais parecia uma história em quadrinhos ou mesmo filme de super heróis, e gostava de ouvir aquilo tudo porque o pai dela tinha a arte do falar. E era assim mesmo que ela via o pai dela, como um super herói de filmes, mas na vida real, que fazia coisas fantásticas mesmo sem ter superpoderes.

O pai dela era habilidoso em dissolver problemas que nenhuma pessoa na face da terra poderia desembaraçar. O Grande Mestre tinha colocado nas mãos do pai um presente diferente chamado dom. E o pai, inteligente que era, usava o dom dele a favor da própria imagem, para se destacar na multidão. Com isso as pessoas olhavam pra o pai dela e viam a marca do Grande Mestre em tudo o que era feito pelas mãos do pai mesmo que não soubessem muito bem reconhecer qual era aquela marquinha de Perfeição.

A missão de lutar contra o mal dessa semana tinha sido um tanto quanto diferente: havia uma grande nuvem de destruição de vida em cima da Corporation S.A., empresa que o pai dela trabalhava disfarçado de empresário enquanto anunciava as boas notícias que o Grande Mestre havia mostrado a ele em particular. A nuvem primeiramente ficou somente sobre a empresa, mas com o passar do tempo a nuvem começou a grudar nas pessoas que passavam pela porta e iam se dirigindo rumo ao coração. Ao entrar no coração automaticamente pulava para os olhos causando cegueira instantânea. Isso trouxe o negrume daquela nuvem tóxica que antes só pairava pra dentro da Corporation S.A.

Como nunca tinha visto nuvem como aquela antes o pai dela agendou imediatamente uma reunião com o Grande Mestre, pois sem Ele nada podia fazer. E ela ficava curiosa pra saber o que o pai dela e o Mestre tanto conversavam, mas apesar de nunca descobrir sabia que daquelas conversas saíam coisas muito preciosas, pois o Grande Mestre é o melhor professor que já tinha conhecido em toda história. Além disso o pai dela sempre saía com um ar de renovação e com muitas novas ideias das reuniões que tinha com o Grande Mestre e isso era o máximo pra ela.

E saindo de uma das tantas conversas com o Grande Mestre o pai dela teve uma grande ideia e pediu que o Mestre mesmo o ajudasse a executar: procurou uma pequena luzinha que havia dentro dele, abriu um ou dois botões de cima da camisa de algodão de fio 120 impecável que sempre usava para que ficasse mais confortável no pescoço e abriu a boca com firmeza até que a luzinha começasse a sair em forma de palavras.

75593867, OJO Images /OJO Images

Começou na sala que se chamava "Minha Sala" e foi andando por toda a Corporation S.A. e abrindo a boca em cada canto daquele edifício plantando a luzinha das boas novas em cada pedacinho de parede e mesmo em cada pedacinho de tijolo até que tivesse pelo menos uma mini luzinha que nem de vagalume em cada cantinho daquele lugar. Em alguns lugares por onde andava, porém, não podia simplesmente jogar a luzinha no espaço, na parede ou no tijolo, tinha que colocar nas mãos de alguém de acordo com a orientação do Grande Mestre porque a terra era o próprio coração.

Assim fez até que tivesse uma luzinha em cada canto da empresa. Bem espalhadas estrategicamente, cada uma em seu cantinho as luzinhas começaram a se comunicar e, ao ordenar do pai dela, começaram a subir como insenso e como aroma agradável para as mãos do Grande Mestre, que observava tudo, dissipando por completo aquela nuvem de derrota e destruição.

Com aquela nuvem densa dissipada as pessoas já conseguiam se ver novamente, não precisavam mais andar no escuro. Ao perceberem um ao outro entenderam que não estavam sozinhos. Começavam a descobrir todo benefício que existia na unidade dos membros como se fosse mesmo um organismo trabalhando em conjunto para o resultado final. Descobriram então que podiam se ouvir e ajustar as engrenagens para andar como uma máquina perfeita.

Depois que a nuvem se foi por completo a vida veio se achegando novamente à Corporation S.A. e fazendo brotar flores que estavam secas, fazendo com que a comida voltasse a ser banquete até mesmo na sexta-feira que era morta e mais ainda, restaurando famílias que não tinham mais conserto para mais ninguém a não ser para o Grande Mestre, que olhava satisfeito para o pai dela e dizia: Muito bem!! Servo bom e fiel!!

Naquela noite, ao redor da mesa, ouvindo o pai falar e contar todas essas coisas emocionantes ela se colocava a pensar firmemente que com tudo isso, toda essa história de mocinho e nuvem bandida, de luzinhas que mesmo pequenas e aparentemente insignificantes podiam derrotar uma escuridão inteira, de corações mudados e tudo o mais que saía da boca do pai era realmente muito fácil acreditar que o pai dela era mesmo um super herói preparado para combater o bom combate, acabar com sucesso a carreira e guardar a fé. Só que mais legal ainda era que não precisava trocar de roupa numa cabine telefônica como fazia o repórter com identidade secreta, bastava vestir todos os dias as vestes de louvor que o Grande Mestre dava de manhã quando renovava o estoque de misericórdias!

85309840, Steve Ryan /Photodisc

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