domingo, 6 de fevereiro de 2011

De mãos dadas...

Com tudo aquilo que acontecia por fora, às vezes se esquecia de olhar pra dentro. Olhar pro rosto do Grande Mestre e pra tudo o que Ele realizava a fazia esquecer de todas as outras coisas, desde as mínimas até as gigantescas.

Ela ficava muito encantada e emocionada por demais com as obras das mãos ao mesmo tempo fortes e delicadas Dele. Admirava e amava tudo tudo tudo que Ele fazia e conduzia.

No dia de trabalho que se chama hoje porém, colocou-se a ler as coreografias de palavras que o Grande Mestre havia entregado a ela só porque Ele é bom.

Tudo começou com a senhora amigamãedetodas. Pois sim, isso mesmo! Em uma festa simples em que o Grande Mestre foi convidado da boca pra fora, passou lá porque Ele é bom demais e só olhou pra todas que estavam juntas ali: ela, a amigairmãmaisvelha, a amigairmãsensata e a amigamãedetodas; e foi embora. Ele não quis permanecer porque chamaram vários outros convidados como o ego e a dispersão e alguns nem notaram que Ele só passou e foi embora porque a glória Dele ficou. Mas não a amigamãedetodas, que notara na mesma hora que o Grande Mestre havia se retirado.

Nesse dia foi que ela se pôs de pé, tomou um fôlego de coragem e colocou-se a ler com muita vergonha e comendo várias palavras tudo o que o Grande Mestre a tinha confiado.

E a amigamãedetodas, que ouvia atentamente apesar de estar triste e com saudade por causa da ausência do Grande Mestre, só perguntou uma coisa: tudo isso saiu daí da sua cabeça?

O sim que ela balbuciou escorregou quase mudo da boca dela porque não estava acostumada a ser boca do Grande Mestre e nem a mostrar nada dessas coisas pra ninguém.

E foi assim, assim mesmo que tomou gosto pela coisa de leitura em voz alta novamente e lembrou-se de quando era menina pequena e aplicada e punha-se a ler para o avô que começava a prestar muita atenção e fazia inúmeras perguntas no começo até adormecer devagarzinho. Ela se sentia feliz com aquelas lembranças que colecionava com carinho por saber que não seriam repetidas.

Segurando então na mão da amigamãedetodas ela foi caminhando bem devagar não só pelos textos, mas pela história da vida dela, que à medida que entrava no ano que ela acolheu nos braços e passava por todas as músicas que a amigairmãmaisvelha cantava com perfeição e saía nos grandes feitos que o Grande Mestre havia começado ia ficando mais limpinha, ia ficando como se fosse sol de meio-dia num dia perfeito.

Só então se deu conta da imensidão do poder do Grande Mestre! Como assim? - se perguntava. Sabia que a cabecinha dela, limitada que era com um cérebro meio turrão dentro, não poderia agora e nem conseguiria nunca absorver com precisão o tamanho e complexidade daquelas coisas que vivia.

Percebeu que naquela noite em que singelamente enterrou o ano velhinho, enterrava também a pessoa que vivera durante todo aquele ano no corpo dela e que não conhecia tão bem assim, apesar de teimar que era ela mesma.

E ao receber o bebê ano novo nos braços foi como se o Grande Mestre mesmo olhasse pra ela como ela fez com aquele aninho que tinha os olhos brilhantes e entendeu que era assim que Ele fazia. Nos detalhes Ele suavemente deitava um pecador torto no leito de morte e o levantava logo em seguida para uma vida muito melhor e muito linda que tem roteiro. Tem um autor que escreve e toma conta. E quando se é escolhido para papel principal não há o que fazer, é só levantar e ir se encaminhando. Escolhido não tem escolha! Tem que ir mesmo!

Olhando pra trás, não como quem coloca a mão no arado e se arrepende, mas como quem trás à memória o que dá, ou pode dar esperança, a felicidade e completude que só o Grande Mestre sabe colocar na gente a foi inundando e primeiro era como se estivesse pelo tornozelo. Logo depois já estava pelas coxas e logo depois já era um rio enorme onde se podia nadar à vontade.

Olhando esse tempo todo pra fora não se deu conta do milagre incomensurável que crescia ali dentro dela mesma e não se conteve. Simplesmente olhou pros olhos do Grande Mestre e com uma pequena gota de sumo do coração nos olhos simplesmente sorriu o sorriso de descanso. E descansou aliviada no abraço daquele Mestre em quem já confiava plenamente.

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