sexta-feira, 29 de abril de 2011

Cunhado ou recém-irmão?

Ela não sabia muito bem por quê, mas estava ali sentada manuseando todas aquelas pecinhas brilhantes que o Grande Mestre colocou nas mãos dela para que ela se alimentasse e isso dava bastante saudade da Amigairmãmaisvelha que deu a ela muitas e muitas daquelas histórias.

Na verdade só de se sentar perto da Amigairmãmaisvelha já era suficiente para nascer boas histórias. Olhando pra todas aquelas pecinhas, porém, se pegou a pensar no cunhado que conhecera há tão pouco tempo e já era tão polêmico entre elas.

O cunhado era ao mesmo tempo sério e misterioso em sua forma de ser e algumas vezes ela mesma tinha ficado irritada só de olhar pro rosto meio sombrio do cunhado, mas por causa do amor de irmã que tinha pela Amigairmãmaisvelha reunia toda educação que a mãe educadora que tinha deu a ela e simplesmente sorria em silêncio.

E foi enveredando por esse caminho que se lembrou do dia em que o cunhado deixou de ser cunhado e passou a ter um pedacinho de irmão dentro dela. Era um dia de festa como elas sempre costumavam ter e ela estava ansiosa pela chegada da Amigamãedetodas naquele lugar que já estava cheio. Colocou-se de pé a procurar um lugar para que pudessem acomodar a Amigamãedetodas com toda a prole que carregava sempre e de repente viu uma mãozinha tentando chamar a atenção dela.

A Amigairmãmaisvelha a chamava para abraçar o cunhado, que naquele contexto já era mais aceitável do que simplesmente marido da irmã. Naquela hora ela percebeu que tinha certo receio do cunhado e não sabia como se comportar perto de alguém que tinha visto somente uma vez, mas que ouvia tanto falar. Por pura educação se levantou e se dirigiu a eles com um sorriso artificial, mas carinhoso, desenhado no rosto e o cunhado a recebeu com simpatia.

Desde aquele dia a capa de cunhado de aquele ser cunhava foi deixada de lado e foi-lhe colocada coroa de irmão, que passou a frequentar com bastante frequência as conversas que ela tinha com o Grande Mestre. Como ela conversava sempre, sempre com o Mestre, ela falava que queria que o recém-irmão usasse não só a coroa de irmão que tinha acabado de ganhar, mas também vestes de louvor como a Amigamãedetodas já usava há tempos, como a Amigairmãmaisvelha vinha usando o tempo inteiro e como ela mesma estava aprendendo a usar com o passar do tempo e com a convivência constante com as duas.

O que ela não sabia, porém, é que a oração de um justo vale muito, muito, muito pelos efeitos que pode produzir. E ela não era a primeira, não era a única e nem seria a última a falar com o Grande Mestre para que as roupas do recém-irmão fossem trocadas. E o Grande Mestre ouvia tudo aquilo em silêncio aquecendo as mãos para começar o trabalho que faria por completo na vida do recém-irmão.

Depois dessas coisas ela ficou muito tempo sem ter sequer uma notíciazinha do menino recém-irmão. Às vezes os encontros com a Amigairmãmaisvelha eram corridos demais para se aprofundarem em algum assunto específico e preferiam contar tudo sem detalhar do que contar uma só coisa, mas ela mesma não deixava de falar ao Grande Mestre que agora tinha um recém-irmão que precisava urgentemente de roupas novas.

As folhinhas do calendário foram caindo pelo chão e sendo varridas junto com a mudança de estação que anunciava a chegada e instalação do outono, sempre apressado em correr e ventar em tudo o que via pela frente. E foi numa manhã quente e seca de domingo outonal que, sem esperar muito encontrou novamente o recém-irmão e pôde conversar melhor com o menino de estatura esticada que ele era.

Dessa vez o recém-irmão usava uma máscara estranha que o Grande Mestre já tinha falado que cairia sem que ninguém esperasse, mas o Mestre mesmo só mostraria para uma única pessoa, que era a Intercessora do recém-irmão.

Já havia muito tempo, tanto que não era possível nem contar, o Grande Mestre olhou para os olhos naturalmente grandes da Amigairmãmaisvelha e disse que dali em diante ela se chamaria pelo nome de Abigail, que quer dizer inteligente e formosa. A Amigairmãmaisvelha retribuiu o olhar toda sorridente e disse: Eis-me aqui, pode me usar da maneira que queres. E foi assim coroada como intercessora do marido, à qual o Grande Mestre ainda mostraria muitas coisas novas que a Amigairmãmaisvelha mesmo não podia sequer imaginar.

E ela conversava com o recém-irmão meio sem jeito pela falta de contato e ficou admirada com o volume de informações automobilísticas que aquela cabeça podia guardar. Parece que foi o assunto certo o tal do carro, mas ela mesma dominava muito pouco da arte das rodas e deixou o recém-irmão falar o quanto pôde e o quanto quis.

Quando estava prestes a começar a celebração interrompeu-o com serenidade, levantou-se rapidamente e de um giro de calcanhares correu para o lado da mãe e deixou que o recém-irmão se entendesse com o Grande Mestre sobre qual seria o lugar dele naquela sala de adoração.

E o recém-irmão, parecendo se sentir bastante à vontade ficou ali com os carros imaginários que desmontaria e remontaria como troféus todo orgulhoso da obra que tinha feito. E ela ficou feliz não só por receber o recém-irmão na casa do Pai, mas também de poder compartilhar aquelas coisas com o menino recém-irmão

 200414148-001, David C Ellis /Riser

E mais uma vez, depois daquela festa, o relógio ordenou que os ponteiros corressem depressa, pois tempo é sempre apressado mesmo e não via há tempos nem sinal do recém-irmão e nem da Amigairmãmaisvelha que a tinha deixado com saudades.

Até que uma notícia do menino recém-irmão trazida pela anunciadora de boas novas que a Amigamãedetodas era fez o coraçãozinho dela sorrir de satisfação e alegria ao mesmo tempo.

No dia que se chama Hoje o Grande Mestre ordenou com voz de autoridade que o recém-irmão, distraído que era, parasse tudo, tudo, tudo o que estava fazendo e ouvisse o que o Mestre tinha a dizer. E não era pouca coisa! Um tanto quanto sem escolha, o recém-irmão parou e colocou-se de pé para que o Grande Mestre pudesse falar. E naquele ato de fé pueril do recém-irmão o Grande Mestre falou mesmo ao coração do menino recém-irmão que aquele mês de julho era. E como chuva de fim de outono, os olhos do menino recém-irmão choveram sem medida e regaram todo o rosto dele, que já não podia ficar indiferente.

E ouvindo aquelas boas novas ela sabia que aquilo tudo era pouco na verdade, mas ela via o coração do recém-irmão como uma pedra enorme, de proporções gigantescas que não era possível quebrantar e aquela fontezinha que se fez nos olhos do recém-irmão eram muito mais do que parecia. O modo mais fácil de quebrantamento era um explosivo chamado dinamite, mas isso causaria muitos danos áquela pedra e não era da vontade do Grande Mestre que nenhum sequer se perdesse, por isso a Amigairmãmaisvelha usou outro artifício e colocou-se a martelar constantemente aquela pedra de coração.

Durante muitos e muitos anos, todos os dias a Amigairmãmaisvelha batia cada vez um pouquinho e com cuidado para que não ferisse, mas fizesse o impacto necessário. E por todo esse tempo não era possível ver nenhum resultado, a pedra continuava tão dura como estava na primeira martelada, e a Amigairmãmaisvelha usava toda paciência, amor e perseverança que o Grande Mestre ia derramando nas mãos afiadas para a batalha que dera à Amigairmãmaisvelha.

Aquela fontezinha que jorrava do olhar do recém-irmão, na verdade, era uma fendinha na pedra dura de coração que o recém-irmão tinha no peito. E por fora ainda era apenas um buraquinho, mas as marteladas que a Amigairmãmaisvelha ia dando no coração de pedra fizeram com que o coração fosse se quebrando aos pouquinhos de dentro para fora no acumular dos anos. Por isso não era visível o processo. O coração do recém-irmão começou a se quebrar onde ninguém via ainda, e agora as rachaduras já apareciam um pouco na superfície.

E ela, esbaforida que era, já estava radiante de imaginar todas essas coisas e queria muito saber de todos os detalhes, mas isso ainda não era acessível pra ela por enquanto. Nem mesmo pra Amigairmãmaisvelha, inercessora do menino recém-irmão essas coisas estavam disponíveis ainda, o que significava que poderia demorar um pouco a chegar pra ela os detalhes. Mas estava feliz demais pra pensar nisso.

E sem se importar muito com os tais dos detalhes que ela queria tanto, ela abriu a boca e agradeceu ao Grande Mestre longamente por já estar trocando as vestes do recém-irmão mesmo que o menino não percebesse. E ela cantava e bendizia o Grande Mestre da salvação por aquelas coisas maravilhosas.

Foi então que se encheu de mais alegria ainda e pediu que o Grande Mestre continuasse a boa obra que havia iniciado e levasse até o fim, o que ela sabia que o Mestre faria, pois é fiel e justo para cumprir tudo aquilo que prometeu.

Foi assim que ela foi dormir, sorrindo para o Mestre, e já imaginando e tecendo pela fé a cena em que ambos, Amigairmãmaisvelha e o menino recém-irmão, consortes que já eram, andando sob a mesma bênção, sob a mesma missão confiada a eles e dando suporte um ao outro incessantemente de joelhos para não cair como fora desenhado pelo Grande Mestre desde a fundação do mundo, formariam um cordão de três dobras que não se arrebenta nunca pela força que tem.

103435953, paul mansfield photography /Flickr

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Filhos...

Nessa primeira noite fria de outono vigorante o vento insistia com firmeza em atrapalhar os cabelos dela que foram suavemente arrumados pela mãe cuidadosa que tinha. Ao mesmo tempo que se sentia friorenta na estação de trem, quando colocava o casaco sentia calor e vontade de tirá-lo. Decidiu então que simplesmente seguraria o casaco sobre os braços e mudaria de um braço para o outro, caso fosse necessário. E assim ficaria quentinha somente o suficiente, sem sentir calor.

Ali, parada e distraída com a força do vento e com o próprio desengonço em arrumar o cabelo, arrumar a blusa e segurar o frio ficou pensando em como aliviar um pouco a tensão da bolsa, que também incomodava e já começava a pesar, já que segurava a blusa nos braços para não sentir todo o frio que a estação sugeria. Foi então que, ainda se ajeitando, ao olhar pra baixo viu uma junta de ratinhos dançarinos que, à sua maneira faziam uma coreografia estranha e muito engraçada entre os ferros dos trilhos.

85041130, Julie Toy /Taxi

Ela já havia visto muitas e muitas vezes os tais ratinhos a dançar e brincar nos pedaços de concreto que compunham o caminho do trenzinho, mas dessa vez eles eram muitos e já não conseguia contar com precisão, pois corriam tão depressa que se perdiam entre eles mesmos. Normalmente ratinhos como aqueles eram nojentos, mas dançando daquela forma eles ficavam fofos. Eram pequeninos e de tanto que se cruzavam já quase não podiam se distinguir um do outro. Havia, porém um menor e mais ágil, havia um outro mais gordinho, havia ainda outro que balançava a cauda com tanta velocidade que parecia em preparação para alçar voo.

E contemplando todo aquele balé que os ratinhos faziam com maestria entre os trilhos de concreto e ferro, começou a se lembrar da Amigamãedetodas que durante uma longa conversa entre elas, família que eram todas, com o Grande Mestre, Ele mandou que a Amigamãedetodas dissesse em alto e bom tom que ela, menina que era, seria mãe de muitos filhos. E não somente filhos de sangue que saem da barriga da gente, mas filhos que se achegariam para que fossem cuidados na alma.

Ela, cuidadora e serva que era por natureza gostou muito da ideia, mas não se sentia apta para cuidar de outras pessoas, mas mesmo assim agradeceu ao Grande Mestre por confiar às mãos dela tão precioso presente. Foi então que a Amigamãedetodas, parecendo que sabendo dos pensamentos dela logo disse que o trabalho dela, dali em diante, seria pedir ao Grande Mestre por todos aqueles filhos que o Mestre mesmo colocaria nas mãozinhas dela. E o Mestre mesmo cuidaria de tudo, desde a concepção até o nascimento.

89055141, David Young-Wolff /Photographer's Choice

Aquilo trouxe muita paz e alívio ao coraçãozinho dela, pois já havia cuidado de muitos, mas nenhum como filhos mesmo. Gostava de cuidar das pessoas, mas filhos eram diferentes! A responsabilidade dos filhos é inteiramente da família, e precisam de ajuda para comer, para dormir, para se manterem limpos, enfim, para TUDO. Ela sabia, porém que quando a mãe está de joelhos os filhos ficam de pé, saudáveis e em caminho reto. E isso era muito novo pra ela no papel contrário de filha, ela ainda não tinha experimentado nada igual até agora.

Como  conhecia, entretanto o Grande Mestre e sabia que a Amigamãedetodas falava exatamente o que o Mestre havia mandado, o coraçãozinho dela se encheu de alegria por todos os filhos de fé que teria e fez exatamente como as mães mais experientes fazem, chorou de alegria. Já podia ver em algumas situações e conversas depois daquele dia alguns sinais de gravidez prematura.

E se alegrava com isso! Até porque parecia que estava ficando semelhante a Amigamãedetodas, que tinha muitos filhos que não chegou a gerar, outros com os quais conviveu por breve tempo, mas cuidava com o mesmo carinho e afeto de todos eles, não só dela, mas da Amigairmãmaisvelha e de todos que receberam o Grande Mestre e foram escolhidos para serem chamados filhos Dele, a saber, os que creem que o Grande Mestre existe e é galardoador daqueles que O buscam.

Nenhum sintoma e sinal que apresentara até agora, todavia chegaram sequer a serem comparados àquelas horinhas anteriores que tinha acabado de viver. Pela primeira vez desde aquela reunião em que o Mestre havia dito tais coisas ela se sentiu realmente grávida com direito a barrigão e tudo mais.

89622089, Brandy Anderson /Flickr

O Grande Mestre preparou algumas horas para que ela ficasse de conversa à toa com a amiga dos cabelos de fogo e pudesse falar do amor que Ele, Mestre e pai zeloso, tinha pelos cabelos de fogo que aquela menina era inteira. E sentada ali naquele lugar barulhento que foi ficando cada vez mais calmo para que ela pudesse ser ouvida, ela se pegou a conversar com a amiga dos cabelos de fogo como mãe mesmo. Mãe que cuida, que ama incondicionalmente e que quer o melhor para aqueles a quem gerou. E quanto mais ela falava mais crescia dentro dela o amor que já tinha por aquela menina dos cabelos de fogo com quem já convivia a tanto tempo.

Enquanto falava sem parar por observar que cada palavrinha era de fato absorvida, ela se pegou a contar várias histórias com maestria que não sabia que possuía e contou desde as promessas e alianças feitas pelo Grande Mestre eras atrás até a saída de um povo que fora escolhido a dedo da terra do Egito e como o cuidado de pai do Grande Mestre não muda. E a menina que estava bem na frente dela, de olhinhos fixos e molhados, prestava atenção a cada detalhe sem desgrudar o olhar dos olhos dela.

E ela, mãe recém-nascida que era, com vontade de abraçar e acariciar os cabelos da filha, que mesmo ainda não tendo nascido de fato estava em formação no ventre espiritual que ela tinha. E foi nessa hora que percebeu que aquele embriãzinho de que cuidava todas as madrugadas para que tivesse um crescimento adequado e chegasse a feto formado com sucesso não era mais um amontoado de células indefinidas que não se sabia o que era, tinha agora adquirido algumas forminhas que já dava para identificar.

306540-001, Neil Harding /Stone

Já se podia ver as mãozinhas, os pezinhos e os cantinhos dos olhos, que ainda que fechadinhos eram olhinhos, dava pra ver algumas partes dos órgãos vitais e pela fé dava para ver até os dons e talentos daquele bebezinho em formação que crescia na barriga dela.

E ela, extasiada, maravilhada com aquele milagre da criação que crescia rápido se alegrou como uma mãe que sai do consultório médico com o ultrassom nas mãos e dava pulos de alegria e falava sem parar com o Mestre que tinha dado tamanho presente nas mãozinhas dela para que ela cuidasse e conduzisse. E não conseguia parar de agradecer pela infinita misericórdia que o Mestre tinha para com ambas, recém-mãe e recém-filha de poderem estar ali sentadas aos pés Dele trazendo à memória coisas que dão esperança.

88190142, altrendo images /Altrendo

Sentindo o pesar de serem interrompidas pelo movimento, pelo barulho e principalmente pela hora elas se levantaram dali e ela, como recém-mãe que era, ainda sem ter passado por todo trabalho de parto segurava orgulhosa a barriga com todo carinho como se já carregasse a filha, que crescia bastante em pouco tempo ali dentro e pedia ao Grande Mestre que essa gestação fosse levada até o final com saúde, e mais do que isso, que o Mestre colocasse nas veias daquele bebezinho o sangue Escarlate do Cordeiro que foi morto, mas venceu e hoje reina para sempre.

107992416, Mark Alberhasky /Science Faction

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Sementinhas

Já fazia algum tempo que ela vinha andando com um pote enorme de sementes nas mãos. Ela olhava as sementes e cada uma parecia ter uma característica, forma e tamanho diferentes. As sementes que ela carregava eram sementes vivas, que podiam fazer florescer vida onde caíssem.

Sabendo disso, e sabendo como era bom ter aquela sementepalavraviva dentro dela, há muito tempo ela vinha andando e semeando por onde quer que pudesse. Muitas vezes ela não sabia bem onde aquelas sementinhas cairiam, mas ela não se importava com isso. Mesmo que as sementinhas, preciosas que eram, caíssem em solo duro de asfalto ela acreditava que o asfalto podia se rachar bem no lugar que foi largada a sementinha a qualquer momento e assim, brotar alguma vidinha por milagre.

200359797-001, Hayley Harrison /The Image Bank

Às vezes ela segurava aquele pote cheio de grãos de todos os tamanhos, formas, aspectos, cheiros e aparências e ficava admirando cada palavrinha viva em forma de semente e se colocava a pensar como aquelas bolotinhas de palavras, mesmo sendo pouquinho, eram tão preciosas. E como podia uma semente, mesmo sendo apenas uma sementinha, servir tanto para semeadura quanto para alimento dela própria.

E quanto mais ela semeava e apreciava aquelas sementinhas mais elas se multiplicavam. Isso dava a ela mais fôlego para continuar a semear cada dia mais e mais como havia aprendido antes cedo do que tarde com a Amigairmãmaisvelha e com a Amigairmãsensata. E, de certa forma, imitando o jeito como a Amigairmãmaisvelha mesmo havia feito com ela quando plantou sementinhas de liberdade na terra do coração dela quando ela ainda nem sabia andar direito.

De todas as sementes que ela andava jogando por aí, porém, não sabia do destino, do resultado de nenhuma ainda. Nunca chegou a ver nenhum brotinho que pudesse tomar como embrião de planta, ou mesmo como bebê de planta. Mas ela mesma não tinha ainda se atentado para tal fato. O que importava realmente era jogar a semente, pois ela sabia que uns plantavam, outros diferentes dos primeiros regariam e outros ainda colheriam os frutos, mas o crescimento de fato vinha do Grande Mestre criador dos céus e da terra que era o único que podia preparar cada terra.

sb10063647w-001, Brand New Images /Stone+

E foi assim, andando, chorando e semeando que um dia, sem querer viu um pequeno brotinho sair de uma terra que aparentemente era seca. E isso, de fato lhe causou muito espanto muito grande pelo fato de não esperar nada daquela terra seca que, apesar de dar frutos, eram frutos que não tinham tanta vida.

AB34053, Frank Cezus /Taxi

Daquela semente especificamente ela se lembrava bem. Foi num dia de verão bem quente em que ela cismou de querer carregar o sol nas costas durante todo o dia e no final aprendeu que o sol era pesado demais para tê-lo nos ombros, se sentou no carro aconchegante e, com um pouco de medo da tempestade que envolvia o veículo por todos os lados que começou a jogar sementinhas de notas musicais para todos os lados enquanto se comunicava com o Grande Mestre que a ouvia atentamente.

Naquela ocasião ela não sabia que aquilo que ela lançava nas mãos do Grande Mestre eram sementes, ela achou que era simplesmente uma conversa entre Pai e filha, mas algumas sementinhas transbordaram e caíram em dois solos que ela não tinha consciência de estar plantando. E agora, tanto tempo depois, florescia esse brotinho tão promissor. E como isso era gratificante!

BB1425-003, Bob Thomas /Stone

Quando viu o brotinho todo verdinho cheio de vida surgindo ela, toda empolgada com aquele milagrinho, pediu no mesmo instante que o Grande Mestre a ensinasse a cuidar daquele projeto de plantinha e que Ele mesmo desse o devido crescimento e cuidado com o que ela já podia chamar de árvore.

E foi nessa novidade de plantação que passou o dia todo cantando, se alegrando e admirando a plantinha e agradecendo a bondade do Grande Mestre, que mesmo que não vejamos nada cuida de nós nos mínimos detalhes.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Só Ele pode transformar carbono em diamante

Domingo de manhã de sol temperado e gostoso nas terras da cidade paulista que já era casa permanente dela. Só isso já bastava para ser um dia mais que perfeito. Logo pela manhã juntou todas as forças que possuía e conversou longamente com o Grande Mestre que a abraçava sem parar. E ela, carinhosa e manhosa que era, se deixava abraçar como se fosse criança pequena e aproveitava ao máximo o carinho matinal do Grande Papai bondoso que ela amava tanto. Conversaram longamente sobre os últimos dias, sobre o dia que ainda estava nascendo na janela dela e finalmente se levantou para o chuveiro que a chamava ainda com preguiça.

Ela tinha que sair depressa porque o Grande Mestre tinha ainda muitas coisas pra falar, mas tinha que ser em conjunto. Dessa vez não era só pra ela, ainda tinha muito mais gente para ouvi-Lo. Ouvir o Grande Mestre nunca era demais e ela estava feliz de ir até lá só para que Ele pudesse falar mais uma vez ao coraçãozinho dela que não se acostumava mais a ficar sem aquela voz mansa e suave que trazia conforto ao coraçãozinho.

Ainda no caminho, preocupada, colocou-se a pensar em como estaria a Amigamãedetodas que não podia estar com todas elas naquela manhã por ter que cuidar dos últimos preparativos para que ela mesma, carboninho que era, fosse lapidada na pressão certa para se tornar o diamante que o Mestre idealizara. De tão pequeno que era aquele carboninho nem podia ser chamado carbono porque carbono era alguma coisa maior. O carboninho tinha que ser chamado de átomo porque só podia ser visto na mira de um microscópio bem poderoso.

Mas mesmo assim o Grande Mestre enxergava o átomo carboninho que ela era e sabia até quantos fios de cabelo estavam na cabeça dela, o que não era nada fácil de saber. E cuidava com todo carinho daquele átomo como se já fosse pedra preciosa. A Amigamãedetodas, esperta que é, sabia que o carbono, apesar de ser somente um átomo, é um elemento notável por várias razões e sabia também que o Grande Mestre mesmo já havia falado coisas muito grandiosas a respeito disso. Uma dessas razões é que o carbono pode virar vários elementos diferentes se ligado à outros determinados elementos.

sb10065243h-001, Jeffrey Hamilton /Digital Vision

Nessa faze as companias são fundamentais para que o pequeno átomo se torne definitivamente quem deve ser. Se o carbono se unir a mais três carboninhos ele se torna um simples grafite que seria usado em alguma lapiseira, lápis, para conduzir um pouquinho de eletricidade inútil ou mesmo desenharia muito nas mãos de algum habilidoso artista para fazer desenhos. Se fosse unido com mais quatro átomos de carbono como ele mesmo viraria um outro tipo de grafite e também não passaria de um objeto comum para ser usado rotineiramente e até largado por aí. Se fosse ligado a outros átomos ainda viraria carvão. E foi por isso que o Grande Mestre cuidou para que a Amigamãedetodas podasse ao máximo todas as companias que pudessem atrapalhar o processo de diamantização daquele átomozinho e quisesse levá-lo a carvão que serve somente para ser queimado.

76128281, Dave King /Dorling Kindersley

A Amigamãedetodas sabia dessas coisa, pois o Grande Mestre já havia falado, mas sabia também que esse mesmo átomo de carbono, unido a esses quatro outros átomozinhos certos, se submetido a uma pressão adequada, que era tão alta que só o Grande Mestre saberia fazer, viraria um lindo e precioso diamante muito brilhante nas mãos habilidosas do Grande Mestre que faria coroas de honra com o, até então, átomozinho. O que tinha de ser feito era determinar o átomo certo a se juntar a ela, átomozinho insignificante.

Ela, átomozinho que ainda era, fez um sinal para a Amigamãedetodas alguns dias atrás naquele ajuntamento que a Amigairmãmaisvelha organizara sinalizando que a barriguinha não ia nada bem. Ela não sabia explicar direito o que sentia, mas estava desconfortável naquela sala um tanto quanto abafada. E a Amigamãedetodas, sem que ninguém soubesse apresentou tanto o desconforto que ela sentia quanto a barriga dela para o Grande Mestre que pediu para que ambas, tanto ela quanto a Amigamãedetodas, saíssem dali e fossem para um lugar um pouco mais afastado a fim de clamarem para que Ele limpasse o interior dela para que pudesse fluir, sem nenhum impedimento, o rio de águas vivas que Ele mesmo havia plantado no jardim fechado em construção que havia dentro dela.

Naquela hora, mesmo sem ela saber, começava uma revolução dentro dela e o Grande Mestre tinha pressa de limpá-la e pressa de que desse tudo certo. A Amigamãedetodas, cuidadosa que era, viu que todo esse processo havia se iniciado e sentindo a pressão que estava por vir do Grande Mestre para transformar carbono em diamante, acabou tomando todas as dores e tendo efeitos colaterais muito fortes por ela, por saber que ela, sozinha, não conseguiria suportar tamanha pressão para virar diamante reluzente e sem risquinhos.

93012494, Tooga /The Image Bank

A Amigamãedetodas, já sentindo as dores como que de parto, mandou que ela retornasse ao lugar de que ambas saíram e ela, sem saber muito bem o que estava acontecendo obedeceu sem questionar e só percebeu mesmo a força da pressão da lapidação quando vinha em direção à Amigairmãmaisvelha, que estatelou os olhos enormes de estrela e olhava fixamente para a Amigamãedetodas que ficara atrás dela. E ela, sem muita coragem de olhar pra trás, se apoiou no olhar e na voz da Amigairmãmaisvelha e continuou a andar em frente.

E daquele dia em diante o Grande Mestre aumentou ao máximo a pressão ao ponto de a Amigamãedetodas se enfraquecer até o leito e não poder se levantar por muitos dias. A Amigairmãsensata, que acompanhava tudo aos pés do Grande Mestre, assustada, transmitia as instruções que o Grande Mestre dava à Amigamãedetodas a ela para que ela pudesse se movimentar enaquanto a Amigamãedetodas suportava toda pressão que o Mestre sabia que ela podia suportar.

E naquela manhã de domingo ensolarado, ali sentadinha no banco do carro, ouvindo o Grande Mestre falar que a amava tanto a ponto de não deixar nada que fosse das trevas a tocar ela pensava nessas coisas e pedia a Ele que levantasse daquele leito a Amigamãedetodas e restaurasse as forças da Amigamãedetodas como se fosse nova em folha. Depois daquele pedido ao Grande Criador do céu, da terra e dela mesma, ela descansou confiando que o Grande Mestre é fiel e justo para fazer não só isso, mas muito mais.

Aquela manhã virou tarde e logo depois início de noite e o coraçãozinho dela sabi que a Amigamãedetodas havia se reestabelecido, mas ao mesmo tempo precisava ouvir a voz da Amigamãedetodas para saber como realmente se restabelecera e como tinha sido suportar a pressão máxima que o Grande Mestre tinha colocado.

Do outro lado do telefone a voz firme da Amigamãedetodas foi contando todas aquelas coisas tinham se passado na panela de pressão em que tinha entrado e ela começou a entender que fazia parte de algo muito maior do que simplesmente virar diamante. O Grande Mestre estava construindo coroas de glória com aquela lapidação toda.

200282584-002, Siri Stafford /Stone+

Ela mesma precisava usar uma coroa de diamantes, pois era parte parte integrante das vestes reais que ela vinha, até então, vestindo dia após dia. Essa coroa ainda inacabada era apenas mais uma peça do traje real que tinha véu de estrelas preparado pelo Grande Artesão do universo.

À medida que a Amigamãedetodas foi contando cada etapa do processo de pressão que suportou no lugar dela ela ia entendendo com mais clareza cada peça da roupa de louvor que estava usando, mesmo que ainda faltasse muitas peças. E foi entendendo também que ser coroa só para ela mesma era desperdício e que o Grande Mestre não faz nada para ser desperdiçado, por isso, no momento oportuno a colocaria como coroa do marido que Ele mesmo deu a ela por casamento, escolhido dentre os príncipes de vestes reais como as que ela tinha agora.

Daquela hora em diante ela escolheu aproveitar ao máximo o que o Grande Mestre estava fazendo e resolveu que queria ser coroa também para os pais, para as amigas e para as autoridades. E aquilo a encheu de alegria, pois era muita honra para um átomo tão pequeno!

E ali deitada, extaasiada com a grandiosidade do nome do Mestre, percebeu que tudo isso só acontecia por um único e maior motivo: o Grande Mestre mesmo atrai os que são dele com laços de amor. Tudo isso para que ela olhe continuamente pra Ele.

200282584-003, Siri Stafford /Stone+

domingo, 17 de abril de 2011

Easy like a sunday morning

Domingo sempre se fazia um dia muito gostoso! Mesmo que não fosse de sol ou de cheiro de grama de manhã. Mesmo que tivesse que ir trabalhar. Domingo era domingo e por si só bastava! Aquele domingo porém, era domingo de festa, mais especial ainda. E naquela festa haveria gente de muitas tribos, povos, línguas e nações e ela gostava muito da mistura de sons que isso fazia.

200160445-001, Chev Wilkinson /Stone+

No coração dela a expectativa era maior ainda pois sabia que estava prestes a ver o Grande Mestre fazer coisas grandes e novas que só Ele sabe. Ela sabia que o Mestre estava ávido por usar a boca disponível que havia saído de tão longe, lá daqueles estados todos unidos, para se abrir ali na paulista cidade que a acolhera e nem mesmo falava o idioma que ela ouvia desde que nasceu.

Como não bastasse a melhor presença da face da terra que o Grande Mestre poderia proporcionar sozinho, estaria também naquele lugar a Amigairmãgêmea, que a aguardava desde o dia anterior, a sobrinha dos olhos de piscina, que era uma compania cinco estrelinhas e a Amigairmãmaisvelha, que ansiava por abraçar havia muito tempo. Ainda de bônus, o cunhado que ela não esperava e nem ao menos conhecia direito. Só faltaria a Amigamãedetodas e a Amigairmãsensata para que ficasse perfeito, mas elas estavam impossibilitadas de comparecer.

78455979, Comstock /Comstock Images

Afastando toda ansiedade gostosa de expectativa, ela levantou-se mais cedo para conversar com o Mestre a sós um pouco antes de se ajuntar a todos para a celebração, pois gostava quando Ele falava somente ao coração dela, em particular. Colocou-se a ouvir bem quietinha e foi aquela pequena conversa de manhã que a sustentou em todas as coisas que decidiu pelo resto do dia.

Saiu daquele diálogo renovada e logo colocou-se de pé, abusou da maquiagem dos cílios e abriu a janela respirando profundamente a brisa gostosa e úmida, vestiu uma roupa leve de verão e abriu os braços para se deixar levar pelo vento que balançava os cabelos dela.

E foi assim que se desenrolou um domingo inteirinho de sorrisos, carros, conversas e muito descanso em família. Não só na família que ela nasceu, mas na família que ela escolheu. E não poderia ter sido melhor pra ela.