domingo, 20 de fevereiro de 2011

Algumas figurinhas trocadas

Ao descer a rampa vagarosamente à procura da sobrinha que teimava em crescer depressa demais para que ela pudesse acompanhar, mas que ela amava tanto que não deixava de ver como criança eterna, percebeu alguém chamando de longe. Deu uma olhada geral para os lados mas não viu ninguém realmente conhecido até que a Amigairmãmaisvelha tocou no braço dela e lhe ofereceu um sorriso do tamanho do universo.

A dificuldade em reconhecer o rostinho familiar da Amigairmãmaisvelha era por causa da moldura que tinha naquela manhã ensolarada. Era raro a Amigairmãmaisvelha ter o cabelo esvoaçante ao vento como estava, mas também era domingo, oras. É que isso era diferente pra ela. Geralmente a Amigairmãmaisvelha tinha a primavera inteira na cabeça o ano todo e fazia reluzir o cabelo por onde passava. Ela sabia que era diferente demais para qualquer pessoa, mas não para a Amigairmãmaisvelha.

56007165, altrendo images /Altrendo

Naquela doce e quente manhã de domingo a Amigairmãmaisvelha tinha pressa, muita pressa, mas isso não a impediu de abraçá-la longamente. E ela se lançou naquele abraço sem questionar absolutamente nada e achando ótimo o simples fato de ver a Amigairmãmaisvelha. Depois de observar um pouco mais ela já achava que naquela manhã a Amigairmãmaisvelha estava com o papel principal de esposa dedicada e ficou muito alegre pelo contexto inteiro da coisa. Muito feliz em abraçar a Amigairmãmaisvelha e ansiando achar a sobrinha de olhos de piscina deu de ombros e se deu por satisfeita quando a Amigairmãmaisvelha simplesmente tocou a ponta do nariz dela e sumiu porta afora. E ela, por outra porta oposta, desceu sumindo dali também para achar a menina dos olhos de piscina, que parecia estar brincando de pique-esconde e ter se escondido muito bem.

O que não sumia por muito tempo e nem ousava se esconder dela, porém, eram aquelas palavras que a Amigairmãmaisvelha depositara nos ouvidos dela naquela tarde de comida de palitinhos no local mais movimentado que frequentavam utimamente.

Era tarde de troca de figurinhas e elas trocaram muitas figurinhas inéditas pra ambas por um longo tempo que parecia não ter durado mais do que dez minutos tamanha fora agradável aquela brincadeira. A Amigairmãmaisvelha falava sobre grandes obras e construções que o Grande Mestre vinha fazendo na vida dela nesses anos em que decidiu andar do lado Dele e deixar que Ele a guiasse por onde quer que andasse. Contou também sobre batalhas épicas e bocas que não conseguiam esconder a verdade mesmo que quisessem muito, pois o Mestre não deixava e isso era até engraçado em alguns contextos. Contou muitos e muitos grandes feitos que só o Grande Mestre poderia ter feito e que se qualquer pessoa tentasse contar não caberia em nenhum livro do mundo inteiro.

92912653, Paul Viant /Photographer's Choice

Daquela longa troca de figurinhas, porém, as figurinhas que ela mais segurava, olhava, formava ideias a respeito e não sumiam jamais do pensamento eram as figurinhas dos presentes.O Grande Mestre havia dado a ela dois presentes. Esses presentes deveriam ser abertos, apreciados, usados e, logo em seguida, distribuído a outras pessoas, mas ela os abriu, usou e teve receio e um pouco de vergonha de usá-los.

Enquanto a Amigairmãmaisvelha falava e descrevia cada presente, na mesma hora sentiu vergonha por não ter passado à frente uma dádiva tão grande que o Mestre havia dado. Pensou que não queria ter vergonha de usar algo que o Grande Mestre presenteou. Se mesmo quando não gostamos de algum presente que alguém dá usamos só pra pessoa se sentir importante, quanto mais algo que tinha amado ganhar e ainda mais do GRANDE MESTRE!! - pensava ao deixar as palavras da Amigairmãmaisvelhas caírem na terrinha tratada do coração dela produzindo aqueles pensamentos que a levavam pra longe sem sair daquela explicação sobre árvores e frutos que a Amigairmãmaisvelha dava com a paciência peculiar que a Amigairmãmaisvelha sempre carregava, pelo menos com ela.

Pôs-se a pensar naqueles presentes tão lindos que tinha nas mãos. Um dos presentes ela amava muito, aliás, os dois ela amava muito, mas um deles ela poderia distribuir sem precisar que as pessoas soubessem que era ela quem estava distribuindo. Isso trazia uma sensação de segurança que a Amigairmãmaisvelha teimava em desconstruir. E ela, como aprendiz de irmã mais nova, teimava em acreditar. Esse presente poderia ser carregado e lido como a Carta de Amor Pra Nós, que o Grande Mestre mesmo havia escrito. Essas coisas todas traziam empolgação ao coração dela e continuava a ouvir aquelas coisas e a colocar o cérebro Turrão pra trabalhar numa forma de realmente distribuir frutos.

6614-000055, Jae Rew /Photonica
O outro ela tinha, necessariamente, que levar e entregar nas mãos de cada um pessoalmente, mas a única vez que ela tinha feito isso foi nas mãos do Grande Mestre e naquelas mãos ela podia confiar, como confiava. Era esse dom que ela usava para brincar e rir com o Grande Mestre até doer a barriga, era esse dom que ela usava para se distrair, era esse dom que ela usava para se aproximar do Mestre que falava muito mais quando ela abria a boca e usava esse dom, era esse dom enfim que tinha mais receio de colocar pra fora em público. Esse dom era extremamente divertido e ela usava e abusava dele, principalmente quando estavam só ela e o Grande Mestre.

Foi esse dom que ela usou para parar de uma vez por todas o temporal na estrada quando começou a sentir medo. Todos se calaram e ela começou a ministrar ao coração do Mestre como se estivesse sozinha no carro. Antes mesmo que parasse de bendizer ao coração do Grande Mestre o temporal parou, igualzinho Ele fez no Mar Galileu. Mesmo assim, com tudo isso, ela ainda estava reticente em dividir esse dom com alguém por achar que não seria capaz de reproduzir com perfeição o que Ele queria dizer ou mesmo o que queria passar.

88794861, Inti St. Clair /Photodisc

Esse filme se passava na cabeça dela enquanto, numa cena recorrente nos últimos dias, ela olhava fixamente mais uma vez praquelas figurinhas que a Amigairmãmaisvelha tinha dado nas mãos dela. Enquanto isso pedia que o Mestre que a ajudasse a ter uma ideia de como faria para distribuir esses presentes e na mesma hora algumas começaram a brotar.

Distribuiu para algumas pessoas o endereço de onde poderiam encontrar aqueles frutos fresquinhos que pudessem comer e aproveitar para matar a fome. Mesmo sabendo que nem todos queriam ou precisavam comer ela estava feliz em publicar onde encontrariam, caso quisessem.

E dessa forma o Grande Mestre foi trabalhando mais profundamente a terra do coração dela para que Ele mesmo usasse o dom que deu a ela. E ela entendeu que, como o presente quem dá é Ele, Ele se empenha em cuidar e colocar cada um no lugar certo e na hora certa. Estava feliz por isso e agradecia ao Mestre continuamente por cuidar tão bem dela. Mesmo quando ela achava que poderia fazê-lo por ela mesma.

97683967, sholgk /Flickr

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