segunda-feira, 2 de maio de 2011

Um novo título

Desde muito pequenina ela brincava com a mãe em forma de piadas quando a mãe começava a cantar. Ela olhava para a mãe e dizia que o que a mãe tinha mesmo que fazer era ser intercessora, não dava pra cantar com aqueles acordes. E as duas se riam uma da outra por demais da conta com aquele gracejo uma vez que, naqueles tempos, a mãe não cantava tão bem como canta agora.

Ela não via como achar graça, porém no fato de a mãe ser mesmo intercessora e não sabia como a mãe podia aguentar ficar pedindo e pedindo e pedindo todos os dias ao Grande Mestre em favor de outras pessoas e até dela mesma. Ela não sabia que intercessão era muito mais do que isso e achava muito mais legal cantar, dançar ou mesmo argumentar com qualquer pessoa sobre o que quer que fosse, mas aquela coisa da intercessão não era bem o que agradava o coração agitado dela naqueles tempos. Ela que não gostava de pedir as coisas a ninguém nem pra ela mesma não via sentido algum em pedir alguma coisa pra alguém em favor de outro alguém. Não fazia sentido na cabeça dela naqueles tempos.

88146633, Design Pics/Steve Nagy /Design Pics


Ela sabia, porém que ser intercessora era um super dom que somente o Grande Mestre podia dar, pois não era fácil pedir ao Grande Mestre todos os dias que cuidasse e protegesse pessoas que não queriam nem ver o Mestre, quanto mais se relacionar com Ele. Precisava de perseverança, amor e persistência. Mas mesmo assim ela gostava de admirar essas coisas de bem longe, não queria chegar nem perto do tal do dom que ela mesma nunca teve e nem desejava ter pensando que era muito chato.

Mas a mãezinha dela não desistia de nenhuma daquelas pessoas por quem intercedia sem parar e sem pensar direito, simplesmente pedia. A mãe dela confiava mais do que tudo na fidelidade de um Grande Mestre Cuidador que permanecia fiel mesmo que ninguém mais fosse fiel. E confiava também que o Grande Mestre, na infinita bondade e misericórdia que tinha, honrava cada pedido de mãe conforme iam sendo pedidos como se as pessoas por quem a mãe pedia fossem, já no tempo que se chama hoje, justos e irrepreensíveis.

E para a mãe dela de fato o eram porque a mãe dela conseguia enxergar pelos olhos da fé. Olhos esses que não são visíveis com os olhos que as pessoas possuem para enxergar. São olhos que só o Grande Mestre pode ver, conhece bem e gosta muito mais deles.

Porém, numa tarde de muita festa, conversa, chá, risos e companhias inestimáveis o Grande Mestre pegou a boca da Amigamãedetodas emprestada e mandou que a Amigamãedetodas falasse que ela, pequenina que era ainda em oração, seria intercessora de muitos porque ela mesma passaria a ter filhos. Ela em nada questionou, mas queria muito abrir os olhos e ver se estavam falando de fato com ela que nunca desejou ter esse presente que era a intercessão, mas não teve jeito. Toda aquela conversa era de fato com ela.

E como era muito feio recusar presentes ela aceitou de bom grado e ainda agradeceu o presente que o Grande Mestre tinha acabado de dar. Ela não sabia ainda pra que aquilo servia, mas guardou com zelo porque mesmo pessoas más podem dar coisas boas aos filhos, quanto mais o Grande Mestre que é bom.

sb10069783b-004, Jose Luis Pelaez /Iconica

Ela recebeu e abriu dando uma olhadela, porém guardou pela falta de habilidade em orar, pedir e mesmo conversar que possuía. Deixou reservadinho pra quando precisasse ou pra quando tivesse oportunidade de usá-lo. E esse dia chegou antes mesmo que pudesse se dar conta.

No dia seguinte em que soube que seu útero espiritual agora estava habitado e ela se tornara uma grávida, ela ficou tão esfuziante que logo ligou pra Amigamãedetodas pra contar a novidade e percebeu que a voz da Amiguinhamãedetodas estava alterada por algum motivo, mas como não podiam falar muito bem entre si nada questionou e nem chegou a dar a noticia de gravidez por completo.

Logo que terminou com a voz da Amigamãedetodas o Grande Mestre iniciou a voz Dele e disse que era pra ela pegar aquele donzinho que estava guardado com tanto cuidado no fundo do baú do comodismo. Ele tinha dado a ela naquela reunião e não era pra ficar guardado para não estragar, era pra usar sempre para que fosse renovado como as baterias dos carros como o recémirmão tinha ensinado a ela.

Ela, obedecendo de imediato, pegou o donzinho de lá de dentro meio frio ainda por causa da umidade, abriu aquela caixinha delicada e tirou o presente tão brilhante que havia ganhado do Grande Mestre. Ficou olhando por um tempo e logo colocou o dom na boca. Aquele donzinho foi crescendo, crescendo até tomar forma de som de muitas águas e ela ficou ali tocando aquele dom no instrumento de cordas que o Mestre havia colocado na garganta dela por muito tempo.

Sem perceber foi pedindo ao Grande Mestre que consolasse, controlasse, protegesse e acalmasse o coração da Amigairmãmaisvelha que ela já não via e nem tinha notícias há tanto tempo e agora mesmo estava em viagem, pedia em favor de cada uma das filhas, que ainda eram substância informe no ventre espiritual dela, pedia que limpasse a vida dela mesma e desse sabedoria para discenir as coisas, cada uma a seu tempo. O foco daquela conversa, porém era mesmo a Amigamãedetodas para quem ela pedia ao Mestre proteção e cobertura na vida da Amigamãedetodas que ela não sabia para onde ia naquela hora, só sabia que através do tom de voz da Amigamãedetodas o coração de uma mandou uma mensagem para a outra em coraçõnês de que algo precisava ser feito.

Aquela conversa com o Grande Mestre durou por longas horas e ela não queria e nem conseguia parar. Foi um tempo em que o cérebro dela foi obrigado a parar não só para falar das coisas do espírito deixando a alma de lado, mas também para ouvir o que o Grande Mestre tinha para falar. E ela se deixou embalar por aquela prosa inesperada na viração do dia até se encher totalmente de alegria.

Muito e muito tempo depois o Grande Mestre olhou pra ela e disse que já era suficiente o uso daquela porção do dom naquele dia, mas que daquela hora em diante teria que usar sempre pra não enferrujar e para as traças não comerem por ser doce como mel. Ela pegou alguns doces para as meninas que viraram filhas, saiu daquele lugar e colocou-se a agradecer ao Grande Mestre pela excelente oportunidade de poder fazer parte disso tudo com Ele.

O Grande Mestre pegando uma dose extra de paz para que o coraçãozinho dela pudesse tomar derramou a porção dobrada dessa paz sobre ela e disse: De agora em diante o seu nome será intercessora e você será chamada por esse nome e atenderá por ele. Caindo na gargalhada ela aceitou o novo título com a alegria que só pode vir do trono da graça e passou a carregar um documento de identidade com o novo nome dado pela pessoa que, pra ela, era a mais importante do universo como se fosse um novo dom, um novo presente.

89291717, Chris Ryan /OJO Images

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