segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Estava de tal forma radiante que não cabia em si. Apesar de todo o cansaço do mundo estar sobre suas costas tinha muitos foguetes dentro dela, e quando tem foguete dentro da gente é impossível controlar.

Depois de andar muuuuuuuito e muito tempo em boa compania se sentiu finalmente cansada e com vontade de se sentar pra sempre. As pernas já não obedeciam, os calcanhares a incomodavam e os pés, esses coitados, já estavam muito inchados.

Ela gostava da companhia das amigas, não importa o que fossem fazer. O quarteto eclético que formavam era no mínimo curioso de se observar. E a fazia muito bem. Se sentia muito em casa com aquelas garotas, cada uma do seu jeito compunha uma parte da família que escolhera. E eram felizes assim, ao modo delas: se encontrando às vezes, cantando muito, dançando muito, dando muitas e muitas risadas sem fim e, principalmente, adorando a um Deus que se deu por elas.

Ultimamente, porém sentia falta da quarta integrante do grupo. A irmã mais velha da turma se tornou ocupada e passou a ser o que O Pequeno Príncipe chamaria de "um homem de negócios", aquele mesmo que ocupava o quarto planeta. Só que ao invés de contar estrelas sem fim ela contava notas musicais e dizia que todas eram dela. E não parava de contar as notas nunca até cansar, mas nunca se cansava de contá-las também.

Com isso quem se cansou de esperar que se contasse tantas notas foram as amigas, que muitas vezes não sabiam contar notas também para acompanhá-la. Mesmo que as vezes elas tenham conseguido capturar algumas cifras e guardarem nos corações umas das outras não significava que todas soubessem o nome de cada uma das notinhas.

E foi assim que, voltando pra casa depois do encontro de um quarteto incompleto, que virou trio, numa tarde muito ensolarada se pôs a pensar por onde andava aquela amiga que era tão irmã o tempo inteiro... Sem perceber como e porquê os pensamentos e a saudade incessante a levaram até o ano passado, lá atrás quando era apenas girino de amizade ainda, quando de repente se sentia sendo levada pela mão e num olhar bem silencioso podia se ler: CANTA! CANTA E DECLARA QUE VOCÊ É LIVRE!!

Ficava tão, mas tão constrangida que cantava, cantava muito a plenos pulmões até que aquela música se tornasse parte dela de verdade. E não sabia se era ela quem estava na música ou se era a música que estava nela, nem entendia o que acontecia de fato, mas cantava. Simplesmente cantava.

A Amigairmãmaisvelha, sem nada falar a respeito colocava os olhares, ou melhor, todos os olhares em cima dela e ficava observando a lenta e gradativa mutação cuidando para que ficasse tudo bem e aconchegante para que, ela, difícil que era, não se sentisse desconfortável com qualquer coisa que fosse.

Ela admirava muito a doçura, destreza e o carinho que a amiga possuía naturalmente e o que mais queria era tirar do pensamento a Amigairmãmaisvelha que conheceu outrora e abraçá-la novamente. Nem que fosse para cantar ao menos uma única música juntas e depois se despedirem outra vez. Pelo menos ela saberia que aquela seria a última...

De repente a campainha do trem a resgatou de seus pensamentos profundos e ela resolveu desembarcar daqueles pensamentos longínquos de tempos atrás e desejar de todo o coração que aquela mulher de negócios que tomou o lugar da Amigairmãmaisvelha fosse embora de uma vez por todas e devolvesse sua Amigairmãmaisvelha também de uma vez por todas, sã e salva!!!

stk320049rkn, George Doyle /Stockbyte

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