sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

E assim ela viu mais um ano passar, escorrer pelos seus dedos sem que pudesse segurá-lo. "Ainda bem", pensou, afinal esse ano foi um tanto quanto torto.

Pensou ver deformada sua imagem através dos olhos de outrem, mas agora... agora sim, a via mais nítida. Podia ver novamente a pessoa que realmente era. Ficava mais definido, aos poucos, seu reflexo.

A única coisa que nunca mudava. Aliás, sabia que nunca ia mudar era a falta que sentia dele.

Também pudera!! Ele estava presente em todas as fases da vida dela. Desde o parto da mãe até quando as asas dela começaram a despontar. Ele fora seu herói, seu único amigo e confidente por muito e muito tempo. Mesmo sendo sempre do jeito dele, ela nunca ligava, até gostava. Ele era divertido, a fazia rir e deixava que cuidasse dele de uma forma que ninguém tinha acesso.

Hoje na loja de perfumes aspirou fundo um cheiro que o trouxe na mesma hora pra perto dela. E mesmo sabendo que nunca mais ouviria a voz firme e rouca dele falando: "oh minha filha! pega pra mim esse palito em cima da mesa" sabia que sentia muita falta e muito orgulho dele.

Sabia também que tinha nela muito mais dele do que ela podia prever, ou mesmo saber. E só se dava conta disso quando simplesmente vivia. Simplesmente deixava-se ser quem ela realmente era. E se sentia feliz com isso, sentia que, de certa forma, ele continuava vivo dentro dela. Com cada voz, cada gesto, cada lição, cada suspiro e cada noite bem dormida.

O fato é que a gotinha dele que tinha dentro dela era pouco, e o que ela mais queria era tirá-lo de dentro dos seus pensamentos e realmente abraçá-lo bem forte.

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